A fealdade importuna. Mas o sobressalto – diria, visual – que provoca não é o escantilhão para ajuizar a competência de alguém. Ao assinalar a feiura da D. Gomes só quis fazer isso mesmo: tomar partido, um muito subjectivo partido, pela fealdade da senhora. Não quis prolongar o raciocínio e tirar outras conclusões. É usual a discordância quando a senhora abre a boca, mas ao menos reconheço-lhe um atributo pouco usual na classe política: pensa com a sua cabeça. Talvez a D. Gomes se ponha a jeito. Com ela, nem os líricos que acreditam que a beleza que conta é a reservada no interior de cada um podem ser seus advogados de defesa. Deve ser por causa da proverbial incontinência verbal.
Também quero que fique claro: a fealdade não entra para as contas da interminável, e obtusa, discussão de géneros. Se é permitida a contradição de raciocínio, pois (e agora resvalo para a máscula condição de que venho acusado) como não aprecio a beleza masculina, tenho a proclamar o seguinte: os homens são de uma fealdade atroz. A beleza é monopólio das mulheres. Mas não de todas as mulheres. Seja em pessoas ou em coisas, a feiura é. Limito-me a usar a liberdade opinativa. Correndo o risco de denunciarem a feiura que percorre as minhas entranhas.
O que me causou surpresa foi apenas um excerto daquele texto ter motivado reacções, passando ao lado da sua parte mais sumarenta. É como confundir a árvore com a floresta. Quando assinalei a dívida que a D. Gomes tem com a beleza, quis fazê-lo porque ainda não há muito tempo a senhora escreveu um texto, no blogue que partilha com o cabeça de lista do mesmo partido, zurzindo da líder da oposição por causa da sua fealdade latente nuns cartazes de propaganda política. E não é que a D. Gomes até tinha razão? A líder da oposição também deve muito à beleza. A D. Gomes estava coberta de razão quando argumentava que o cartaz era infeliz por ter escolhido cores que ainda salientavam mais a fealdade da líder da oposição. Mas falava o roto do nu. Não há espelhos em casa da D. Gomes?
Venho ainda acusado de ser um "machista anarca zangado com o mundo". Vamos por partes. Machista não sou. Ou, pelo menos, não me considero tal coisa. A confusão está instalada pois, por vezes, atiro-me às feministas (sobretudo às feministas exacerbadas). Acho que uma coisa não corrobora a outra. Aliás, já por aqui deixei textos que satirizam uma das patéticas idiossincrasias másculas lusitanas: o marialva. Anarca, serei (em rigor: anarquista). Zangado com o mundo? Um bocadinho, e às vezes.
Sugere-se ainda que aquele texto insinuava uma alegria interior com os resultados das eleições para o Parlamento Europeu. Corrijo os termos: primeiro, a alegria interior vinha lá declarada, não se adivinhava do texto. Segundo, acho que não é uma alegria interior, daquelas que são balsâmicas. É mesmo um gosto perverso pelos maus humores de quem foi derrotado. É nestas alturas que dá à costa o pouco aconselhável mau feitio que tem dias.
(Se bem que seja enternecedor, pelo contentamento em que marinavam os vencedores, vê-los na algazarra. Uns, porque nem em sonhos acreditavam na vitória; era vê-los, sobretudo os jotas na retaguarda do cabeça de lista vitorioso, a darem vivas e a soltarem alarves pregões dirigidos ao adversário. A propósito, estava lá um jovem com ar de "nerd" que rivalizava, na fealdade, com a D. Gomes. Outros fizeram uma festa que estava linda, pá, uma fantástica mistura de jovens burgueses bem instalados e gente que parecia saída de um acampamento alter-globalização. E ainda o contentamento reprimido dos que ganham sempre, mas mostravam cara de enterro porque foram ultrapassados pelos inimigos de estimação. Diz-me nada a felicidade dos que ganharam. O que me encheu as medidas foi a tristeza que consumia os derrotados. Porventura esta franqueza cai mal, mas é a franqueza que me vai na alma.)
Para terminar, queria lavrar a discordância total de outro pronunciamento sobre o tal texto: longe, nos antípodas mesmo, de ter algo que se assemelhe a um "perfil impecável". Aliás, no dia em que o tiver, quero me encerrem num manicómio.
2 comentários:
O que motivou a minha reacção sobre o sua alusão à beleza da visada foi um pouco a surpresa, porque não esperava isso de si, isto é, tendo em conta a ideia que havia formado de si após ter lido alguns dos seus textos! Pareceu-me incongruente, logo você que eu tinha e tenho, porque é mesmo isso, como uma pessoa lúcida. Este costume tão troglodita, de avaliar o género feminino pelo seu aspecto, está muito de acordo com determinadas pessoas, mas tenho dificuldade em aceitar que alguém intelectualmente superior se deixe dominar por este sentimento tão rude.O facto de a senhora o já ter feito em relação à líder da oposição não legitima a sua abordagem. A beleza interior não torna uma pessoa bonita mas dilui a fealdade ou a sua impressão.
Quanto à beleza masculina dir-lhe-ei apenas que é muito subjectiva. Basta ser rico para parecer muito bonito! Portanto, à mulher para ser verdadeiramente mulher e poder ser levada a sério é exigida beleza, ao homem ainda que pareça um cavalo, se tiver muito dinheiro deixa de o parecer!
Apesar de eu ser muito feminina, não sei se sou feminista, preocupo-me tão-só em defender tudo aquilo em que acredito!
Ao longo da minha vida tenho evoluído, e, com isso formado a minha própria concepção da realidade, por isso há coisas que apesar de tanto seduzirem o comum mortal, a mim, não me dizem nada, é só isto!
Já agora, em relação à líder do PSD: Na minha opinião o mais grave não é a ausência de beleza até porque a senhora é de idade avançada e como todos sabemos o tempo é cruel, mas sim a ausência de ideias, de convicção e de tudo aquilo que seria exigível em alguém que pretende convencer e dinamizar as massas! Chego a ficar ofendida, por saber que alguém pensou, que uma pessoa tão árida de ideias, com tão pouca visão de futuro, e tão impreparada servisse para representar o meu país e, portanto, os portugueses! Estamos mal, muito mal...
Sorrio! Impecavel, meu amigo, impecavel!!
(teclado dificil...)
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