In http://www.tradembal.pt/product-images/f6680bd130_Adesiva%20Fragil.jpg
Porcelana
fina. Uma sensibilidade que se coalha com um singelo sussurro ao ouvido. Casquinha
de noz deitada aos ferozes apetites do mar encapelado. Frágil. Acossada nas
noites imperturbáveis e que, todavia, se refastela nos odiosos corredores
estreitos por onde se esgueiram as assombrações. Tudo nasce e quase tudo fenece
na sua labiríntica cabeça – um mastodonte que se empresta às balas, triunfal na
sua valentia, ó profana valentia que desagua em nada.
Às
interrogações devolve respostas em forma de interrogação. Um simples passo, nem
interessa se em falso, e logo se ajoelha diante da apoplexia que julga frígia,
esperneando como se não houvesse amanhã em espasmos que a vomitam para fora de
si. Ou talvez seja apenas encenação, uma terrível vontade de ser protagonista de
atenção. Dos que gravitam na sua órbita, acostumados à filigrana de seda sem
importunação. E dos outros, dos que passam e são vítimas da baioneta imaginária
terçada em demanda de afagos.
Um
dia deu de caras com um distraído. Em litania, meteu conversa e desnovelou as
contrariedades que a convenciam da existência compungida. E ele, absorto num
mundo particular, olhava com indiferença (“outra
demente”, diagnosticou). Fazia de conta que se embebia no prolixo monólogo
e coçava a cabeça em desdém de perplexidade. “Que raio”, calçava o pensamento sem verbalização, “não conheço a mulher de nenhum lugar. Por
que não me deixa sossegado?” E ela persistia na narração dos pessoais contratempos,
acentuados com o dramatismo que manejava com destreza.
Dez
minutos depois, muitas palavras salivadas sem serem retidas por ele, ela
disparou um repto para testar a sua atenção: “então diz-me lá como me chamo”. Só à terceira tentativa, já a voz
dela crescia, audível, nas imediações e as demais pessoas na estação do metro
desviaram o olhar em sua direção, reparou na interpelação. Não se incomodou com
a interrogação em jeito de desafio, nem se atemorizou com o olhar irado que, se
pudesse, arrancava as córneas pela raiz. Ele disse: “não me lembro” e virou as costas.
A
menina esteve três dias sem sair da cama, tamanha a desfeita ao ego tão
inflamado, o ego carregado com as cintilações da filigrana que a levavam ao
convencimento de que era alteza no meio dos súbditos.
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