26.10.11

Toca e foge


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Espalhava a confusão. Gostava de ver os confundidos parecendo baratas tontas, esperneando desorientação. Um provocador. De emoções e reações. Deixava-os entregues no regaço das pessoais apoplexias semeadas por ele na continuidade da perfídia que era causa de ser.
Arrebanhava um punhado de palavras que, sabia-o, haveriam de ser abalos telúricos nas vítimas selecionadas com precisão cirúrgica. Portava-se como guerreiro medieval que, uma vez desembainhada a espada, só se apaziguava ao verter sangue de alguém. Contudo era de uma estirpe diferente. Desembainhava a espada e aplicava golpes certeiros que deixavam as vítimas em consumição com as golfadas de sangue vertidas como rios de lava incandescente. Enquanto as vítimas se debatiam na sua plangência, já ele metera pés ao caminho. Não havia lugar à réplica de quem fora algoz. Batia em retirada, apressado, em sincera confissão de covardia.
A coragem ficava-se pela metade. Assegurava que as vítimas não o esperavam ser. Pela calada, desferia os golpes certeiros que as deixavam no estertor doloroso. Tudo bem congeminado. Não fossem os golpes certeiros, se a espada das aleivosias (fossem palavras, fossem atos) cortasse a carne um punhado ao lado do sítio preciso, e as vítimas não caiam inanimadas. Podiam ripostar. A bravura haveria de se consumir na sua própria traição. A triagem dos atos precisos era imperativa. Ou sucumbia às mãos das vítimas ensanguentadas e todavia céleres na compostura.
Tinha a sagacidade do toca e foge. Era um pulsão indomável: precisava de provocar como precisava do necessário oxigénio. Não punha de lado as tremuras que sentia quando desembainhava a espada das provocações e de seguida alavancava as pernas para umas milhas fora do campo de visão de quem tinha sido assestado pelos golpes certeiros. E nem ao deitar, quando o travesseiro servia de depositário das possíveis dores de consciência, as sentia. Era patológico. Empanturrava-se com a malvadez deixada em forma de cicatriz nas vítimas escolhidas a dedo. 

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