21.10.11

O chicote seletivo dos impostos


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Na Dinamarca, os “alimentos perigosos” sujeitam-se à moca dos impostos. Manteigas, produtos saturados de óleos alimentares, chocolates, fast food e outras iguarias que sabem bem mas fazem mal passaram a pagar IVA agravado. Ainda não percebi se a medida já tem o dedo de um dos raros governos socialistas na União Europeia, mas a ideia tresanda a este ativismo típico dos engenheiros sociais que encontram albergue na internacional socialista.
As autoridades, que nunca deixam de mostram o seu zelo e preocupação com a saúde dos concidadãos, à falta de coragem para proibir a venda dos alimentos que consideram “perigosos”, taxam-nos à obscenidade. Os que se comovem com a diatribe fiscal defendem o método. Argumentam, a liberdade dos consumidores não é hipotecada. As autoridades apenas sinalizam comportamentos menos – por assim dizer – próprios, atirando com impostos agravados para cima dos alimentos que se encaixam nesses comportamentos. É a teoria do chicote, alvitro deste lado. E, se me é permitida a ousadia da discordância, a liberdade de escolha é hipotecada. Só o fato de os consumidores dinamarqueses saberem que vão pagar consideravelmente mais pelos produtos da lista negra pode dissuadi-los de continuarem a ser seus consumidores. Os apaniguados da farta engenharia social logo dirão, enchendo o peito de satisfação: pois era essa a finalidade pretendida! E era tudo perfeito se não houvesse umas almas embebidas em mau feitio que desmontam os imperativos categóricos semeados pela internacional socialista.
Por este andar, um dia destes somos confrontados com um manual de etiqueta detalhado, centenas de páginas ilustradas (com gravuras e descrições a preceito como se fôssemos meninos dos bancos da escola primária), ensinando o que podemos fazer e o que devemos evitar. Será a fase suave. A porta entreaberta para a fase endurecida do “novo homem novo” com o dedo dos fazedores de novas sociedades. Entronizados na impassibilidade de quem não admite a autoridade contestada, estes ASAEs em potência acabarão por proibir comida hoje permitida – e a seguir, sabe-se lá mais o quê. Refaçam-se as coordenadas da gastronomia típica dos países. Entre iguarias banidas dos menus e iguarias revisitadas através de heréticas receitas, o novo homem novo será uma perfeição abúlica, uma asséptica inutilidade.
Ah, como já começo a ter saudades dos maus hábitos!

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