In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjU3U6brjnU32uWhHHkK2lhvFsE7PTHDwJEuYYBn08iCIfpewZa7JpwpAZbQFnms_QxZkG1Irzy6eVc3iMlAtBNV-ns_UF3xLyUNi-5m3kfViVTfT1a-ueNH9HWfTgd164yDPi/s400/untitled.bmp
Um
dia perfeito é uma surpresa agradável, daquelas que provocam um espontâneo sorriso
farto. Encontrar uma pessoa conhecida que se ausentara até das memórias. Pôr a
conversa em dia enquanto os lábios se aconchegam na chávena de café. Sem exagerar
da nostalgia, não vá o reencontro esgotar-se na tradição das memórias que
equivale a um inglório aproveitamento do tempo.
Um
dia perfeito é, em podendo, gazetar. Meter as mãos ao volante e rumar pelas
errâncias que forem apetecidas ao sabor do momento. Atravessar as encruzilhadas
por diante, redesenhar o rumo consoante a vontade do momento. Sem outra
urgência que não seja a de fugir da cidade em demanda do sossego das paisagens
onde o isolamento encontra nutriente. Subir a estrada que empina pela serrania
acima, dobrar as curvas apertadas, sem medo dos precipícios que bordejam a
estrada, até por fim a cumeeira ser abraçada. E depois, depois deixar o corpo
entregue à paisagem oferecida pelo púlpito da serrania. Fechar os olhos
enquanto o rosto é esbofeteado pela ventania fresca que redobra de intensidade
na desproteção do lugar despovoado. Ao abrir os olhos, sentir que já se pode
regressar a casa.
Um
dia perfeito é saciar a rotina. Senti-la como dádiva que é legada aos mortais.
A dádiva de acordar e abrir os olhos e sentir que uma vida inteira, preenchida,
a vida toda que existe por si mesma, está à frente dos olhos, pronta para ser
servida, pronta para ser sorvida. E se à rotina o pensamento disser que ela é
cansativa, ao menos a grandeza de admitir que o pensamento tem a lucidez de
esboçar desfechos.
Um
dia perfeito: é um afago que arrepia a pele, uma palavra discreta de elogio, uma
música escutada na rádio que vem a preceito de um momento, um repentino
mergulhar numa página ao calhas de um livro de poemas, não ligar a televisão
nem ler jornais para não ser esquartejado pelas notícias negras, os gatos que
se roçam nas pernas, ávidos de carícias. A filha que segreda a adoração pelo
pai. Isto e muito mais, num cortejo dos dias que se seguem uns aos outros. Que
devia ser um cortejo imperativo de quase perfeição.
Sem comentários:
Enviar um comentário