In http://imagens.publico.pt/imagens.aspx/359620?tp=UH&db=IMAGENS&w=350&ts=1319726065,03874
Era
sobre o perfil do ministro das finanças. Uma fotografia de grande plano. As
olheiras bem carregadas. Não é para menos. Quem gosta de ser odiado pela
populaça e, em especial, pela poderosa corporação dos funcionários públicos?
(Tão poderosa a corporação, que até distintos funcionários públicos que são do
partido que apoiam o governo do ministro das finanças destilam inflamados
protestos contra a austeridade seletiva que poupou os funcionários do sector
privado – até ver – aos sacrifícios.)
Eu
vejo as olheiras do ministro, mas a ausência de cabelos brancos podia querer
significar que o homem vai passando bem entre a chuva ácida das críticas que
caem quase de todos os quadrantes. Lembro-me de um par de exemplos de gente que
depressa ficou grisalha quando amesendou no opíparo e, todavia, tormentoso
caudal do poder. O ministro das finanças limita os traços exteriores da árdua
função às olheiras bem vincadas.
Pode
ser porque estes são os piores tempos possíveis para uma alma aceitar a
sinecura em que ele foi empossado. É um ato de coragem, emprestar a cara aos
anúncios mais impopulares de que há memória desde que o FMI cá aterrou há quase
trinta anos. Ou pode ser por causa dos pessoais sapos que o ministro tem
engolido ao assinar certas decisões. E não é por elas serem impopulares, que
aposto que o ministro, em não sendo político profissional mas apenas “técnico”
(como foi depreciativamente cunhado pelo senador-mor da república, Soares),
está-se nas tintas para o ódio destilado e para a impopularidade junto dos
concidadãos.
Quais
são os pessoais sapos? Num excerto do perfil, é lá dito que o ministro é adepto
de Milton Friedman. Ora Friedman talvez não desse boa nota ao discípulo que,
com a pasta das finanças na mão, desatasse a subir impostos a torto e a
direito. Dirão os circunspectos: manda a emergência, tamanha a pré-insolvência
em que os anteriores amadores deixaram as finanças públicas, que o contribuinte
seja assaltado desta maneira. Friedman diria que a tesoura devia ser mais
expedita nas despesas do monstruoso Estado.
Estão
explicadas as olheiras do ministro das finanças: adivinha a desaprovação do seu
mestre, às voltas no túmulo onde foi sepultado.
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