In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmaeA1lpYZAEO0pigaT481BLSdsudQhqTQWOYbLlNG0ejSgp9BHaJbrU2jrUdW8dxJxJB4YeywknT_SVCT3OW7JW8lkWByeKRyiW4L56zgmmiTTkyxzh1FMmfYHthRPPrO9pMzQw/s1600/encruzilhada.gif
Há
encruzilhadas pungentes, aquelas que convocam todas as bússolas do universo
para o providencial socorro no remate da direção acertada. Os pés vacilam, como
o artista circense, no meio da fina corda, o corpo ameaçando ora tombar para um
lado ora para o lado de lá. Os olhos perdem noções. Titubeiam quando fitam os
cenários sobrepostos. Como se estivessem agrilhoados por um estrabismo
imaginário, um dos olhos confundido com o cenário dissonante, o mesmo
acontecendo ao olho oposto.
As
variáveis em equação são sopesadas, meticulosamente sopesadas. A tarefa, que
consome o tempo vago e o tempo ocupado, é um hipnotismo da mente. As variáveis,
de tão numerosas, agasalham a desorientação. Há o cheiro a demência a aflorar
por entre os poros da terra enquanto as decisões estão em compasso de espera.
A
palavra que reina é hesitação. Não chegam as contas de merceeiro, as que se
fazem quando no sopeso das virtudes e dos inoportunos de cada face do dilema se
metem as primeiras do lado mais e os segundos do lado menos. Em vez da arte
contabilística, os sentidos farejam os pesos na sua forma relativa – que é o
mesmo que dizer, a qualidade das virtudes e dos inoportunos de cada lado do
dilema. Não há concordância entre os hemisférios da decisão. Desabrocha a
indecisão, um punhal cortante que rasga a carne a cada instante em que a
hesitação asfixia um prefácio de deliberação.
Como
tratamos o dilema? O adiamento é sempre um método expedito. Ou atirar a moeda
ao ar, esbracejando o aleatório. Mandam os costumes, e o categórico imperativo
da responsabilidade que a cada um cabe (ah, o categórico imperativo da
responsabilidade de cada um...), que os dilemas não mereçam abordagem superficial.
Se é dilema, é coisa a carecer de seriedade. As coisas sérias não se compadecem
com frívolas decisões. O compasso de espera que se demora faz crescer a
temperatura da indecisão. A certa altura, a indecisão é insuportável. E,
porventura, sem a esperada flamância, o corpo já cansado inclina-se para um dos
lados do dilema. Que já não é dilema.
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