4.10.11

O que é um dilema?


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Há encruzilhadas pungentes, aquelas que convocam todas as bússolas do universo para o providencial socorro no remate da direção acertada. Os pés vacilam, como o artista circense, no meio da fina corda, o corpo ameaçando ora tombar para um lado ora para o lado de lá. Os olhos perdem noções. Titubeiam quando fitam os cenários sobrepostos. Como se estivessem agrilhoados por um estrabismo imaginário, um dos olhos confundido com o cenário dissonante, o mesmo acontecendo ao olho oposto.
As variáveis em equação são sopesadas, meticulosamente sopesadas. A tarefa, que consome o tempo vago e o tempo ocupado, é um hipnotismo da mente. As variáveis, de tão numerosas, agasalham a desorientação. Há o cheiro a demência a aflorar por entre os poros da terra enquanto as decisões estão em compasso de espera.
A palavra que reina é hesitação. Não chegam as contas de merceeiro, as que se fazem quando no sopeso das virtudes e dos inoportunos de cada face do dilema se metem as primeiras do lado mais e os segundos do lado menos. Em vez da arte contabilística, os sentidos farejam os pesos na sua forma relativa – que é o mesmo que dizer, a qualidade das virtudes e dos inoportunos de cada lado do dilema. Não há concordância entre os hemisférios da decisão. Desabrocha a indecisão, um punhal cortante que rasga a carne a cada instante em que a hesitação asfixia um prefácio de deliberação.
Como tratamos o dilema? O adiamento é sempre um método expedito. Ou atirar a moeda ao ar, esbracejando o aleatório. Mandam os costumes, e o categórico imperativo da responsabilidade que a cada um cabe (ah, o categórico imperativo da responsabilidade de cada um...), que os dilemas não mereçam abordagem superficial. Se é dilema, é coisa a carecer de seriedade. As coisas sérias não se compadecem com frívolas decisões. O compasso de espera que se demora faz crescer a temperatura da indecisão. A certa altura, a indecisão é insuportável. E, porventura, sem a esperada flamância, o corpo já cansado inclina-se para um dos lados do dilema. Que já não é dilema.

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