13.10.11

Os ambientalistas não gostam de banho?


In http://www.meusgastos.com.br/blog/wp-content/uploads/2009/01/chuveiro.jpg
Regresso à vã felicidade da muita gente extasiada com o agosto que se intrometeu nesta primeira metade de outubro – dias a fio com o termómetro quase a beijar os trinta graus; dizem-me, dias de praia como não houve em agosto. Faz lembrar quando se navega por estima, sem olhar ao mar de fundo que aí vem soprado por uma tempestade que se agiganta no meio do oceano. Depois, só depois, quando a tempestade descompuser as vagas do mar, damos conta que não preparamos a embarcação nem cuidamos da rota. Depois são as dores que forem.
Vem isto a propósito do que ouvi na rádio enquanto aturava uma fila de trânsito (para além de estar farto da canícula): a água escasseia em Bragança e a autarquia avisou que dentro de dias haverá restrições no abastecimento se a chuva continuar ausente. A reportagem fez-se à rua para sentir o pulsar da população. Uma idosa sabia-a toda: a construção de uma barragem já tinha resolvido o problema. Mas os ambientalistas que capturaram a decisão no ministério responsável não deixaram. A senhora rematou a ideia, com voz pesarosa: “um dia destes como vamos cozinhar, como vamos tomar banho?”
Estes episódios deixam-me comovido com a ação diligente dos ambientalistas. Não digo que a fauna e a flora não devam ser protegidos (quem me conhece sabe que em relação à fauna sou um protetor ativo). Quando se chega ao exagero de colocar em risco o abastecimento de água em nome sabe-se lá do quê na natureza, as prioridades acabam trocadas.
Fica este labéu aos ambientalistas: por causa da desproteção dos interesses da espécie humana, não serão os ambientalistas genocidas? Genocidas, bem entendido, dos legítimos interesses da espécie humana. Ou usar água para confecionar alimentos e para a higiene pessoal não é um legítimo interesse? Talvez estejamos todos errados e os ambientalistas é que sabem da poda. Tomar banho é contra a natureza humana – vejamos os nossos ancestrais. Devíamos andar todos imundos a cheirar a imundície recíproca. Com o calor destes dias é que sabia bem cheirar a sudação abundante dos nossos pares.

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