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Falta
o jeito, mas dá-se um jeito. Amanha-se uma solução e os problemas, melhor ou
pior (mais vezes pior do que melhor), vão sendo adiados. O jeito dado pode ser
uma fermentação às três pancadas, pode até piorar o diagnóstico sombrio que fez
os jeitosos meterem a mão ao trabalho. Mas quem os pode censurar? O
voluntarismo não merece penalização. Os equívocos, e os muitos danos em que
soçobram os equívocos, são as dores de parto inevitáveis. Assim como assim, os
jeitosos são um escol que merece a caução dos que frequentam as mesas de voto.
Anda
por aí teoria, recente teoria nos assuntos da paróquia, que insinua o banco dos
réus para os jeitosos que, de tão desastrados, passaram das marcas. Insinua-se
que os jeitosos estiveram em negociatas pouco transparentes. Beneficiaram
empresas onde estavam amigos da mesma confraria, amigos que outrora foram
correligionários mas que se arrependeram dos parcos proventos e emigraram para
as fartamente remuneradas sinecuras em conselhos de administração de empresas
que se banqueteiam à mesa do erário público.
Ora,
eu acho errado o furor que quer trazer até ao banco dos réus os jeitosos desta
estirpe. Lá vai adágio: quem dá tudo a mais não é obrigado. O mal radica no
viés que admite jeitosos a comandarem a aeronave. Não podemos estranhar que a
viagem esteja embrulhada em constantes sobressaltos, incapazes os jeitosos de
lerem uma simples carta meteorológica que desvenda os lugares da turbulência.
Nem podemos protestar contra a aterragem desajeitada que nos coloca à beira da
apoplexia. Foi o que se arranjou. Uns amadores que não tinham outra serventia.
Às
vezes, o imaginário popular é alimentado (e alimenta-se) de narrativas feéricas
que terminam em locupletamento dos jeitosos. Não quero saber se os
locupletamentos são boataria ou se há fogo na raiz do fumo que encadeia o
horizonte. (Até quero saber, não estejam os meus impostos em desbaratamento
inútil.) Apenas registo como a idiossincrasia trata de tudo: para jeitoso,
jeitoso e meio, nesta terra de abundância em oportunistas sem escrúpulos.
Ai,
as dores de parto da democracia.
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