11.10.11

Os do oráculo do caos


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Pensando que sou um especialista de alguma coisa, perguntam se não temo que os tumultos da Grécia se possam contagiar até cá. Despacho a conversa em duas penadas, mostrando credenciais de especialista de coisa nenhuma. Em não se sabendo da poda mata-se o tema à nascença. Mas não perco a oportunidade para afugentar os fantasmas do caos cujo lustro é puxado por uns peritos da confusão que andam em pulgas para a confusão se materializar em desassossego.
Não sei o que mais apoquenta: os que repetem as preces para a sublevação, ou os que, em reação, prometem soltar os mastins com dente afiado e o arsenal policial à mão de semear. Perdoo menos estes, porque não entendem a cilada. Devem ser daqueles que não se importam de sacrificar liberdades para honrar a segurança, a sacrossanta segurança. De hoje para amanhã, ainda se esquecem do património das liberdades. Nessa altura, não serão diferentes dos totalitaristas folclóricos que acreditam que a rua é o palco para matar crises.
Em não sendo especialista de coisa alguma, cometo a ousadia da opinião. A idiossincrasia enche a boca de toda a gente: somos gente pacata; somos preguiçosos e individualistas; não tiramos os ossos do sofá para o desassossego das ruas. Resignados. Mas não somos todos assim. Há uma franja, debatendo-se com inúmeros problemas com a aritmética (não sabem contar e acham-se maioria de coisa alguma), que sai à rua para protestar e vociferar e, só de vez em quando, espalhar um bocado de confusão. Até nisso somos gente pacífica, nórdico comportamento em corpo latino: ele há lá devastação urbana como vemos em Atenas, ou nos lugares por onde passam reuniões das organizações internacionais que prolongam os tentáculos do capitalismo?
Aqui não passam iracundos que cospem intolerância ideológica. Vivem num lugar onde o povo traduz uma sorte madrasta. São uns incompreendidos. Mobilizam-se. Da sua afinada pena soltam-se prosas inflamadas que deviam incentivar as massas à mobilização, e daí à sublevação. A praia neste outono emparedado pelo estio tardio, ou os centros comerciais onde berra a alienação do consumismo, ou piqueniques em dose industrial ao som de heróis da música pimba – é disso que o não doutrinado povo gosta.
Tudo como dantes no quartel general em Abrantes.

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