14.10.11

E se o céu desabasse em cima da nossa cabeça?


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(Hino ao otimismo dos tempos - sem parecer um louvor ao governo)
Bisonhos nas adversidades para que não estávamos treinados, metemo-nos nos tempos macambúzios. Não ajudam, as notícias encomendadas. Hoje esbarrei numa parangona asceta, lembrando o intuitivo: a crise faz mal à saúde. Também não ajudam os adestradores da governação. Estimam a acostagem de trevas assustadoras. Até parece que somos petizes mal comportados arrolados para o castigo do quarto escuro, onde se escondem, entre os sofás e almofadas com cheiro a naftalina, fantasmas que se locupletam do sono pueril.
E aos que se queixam das dores da austeridade que caiu em cima do dorso, avisam os carrascos da desgraça vindoura que o pior ainda aportará. Vivemos no sopé da apoplexia. Como se até o oxigénio estivesse nas promessas das diluições. O horizonte, carregado com nuvens plúmbeas de onde tombam balas lancinantes, não deixa dúvidas. À força, voluntariados para a parcimónia para que não fôramos educados. Afinal os hunos e quejandos têm razão: somos filhos pródigos banqueteados na abastança das ilusões, enquanto eles, os precatados, eram diligentes na poupança.
E podem os cenários ensombrecer-se ainda mais? Podem. Sempre. As hipóteses não devem ser castradas por impossibilidades. Mas, então, por que não há de o horizonte ameaçador ser a porta de entrada para o fulgor de um céu beijado pelas luzes claras? E se em vez de discutirmos a cor do horizonte estivéssemos diante do colapso do céu estilhaçando-se sobre as nossas cabeças?
Podem os tempos que aí vêm ser amanhãs repletos de perplexidade e sobressalto. Enquanto houver perplexidade e sobressalto, ao menos há um algo. Há um céu para observar no caleidoscópio de cores em que se compõe, pendente dos humores da batuta que o orquestra. Agora, no restolho dos excessos, o congraçamento sem fuga. Fala-se de sacrifícios que doem. Oxalá quando as dores chegarem ao seu cume, e os sacrifícios já não forem tamanho imperativo, o chão seja firme. Modesto, mas firme.
Eis a porta que se entreabre por entre as temerosas nuvens acasteladas: do caos espreitar um novo porvir.

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