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(Hino
ao otimismo dos tempos - sem parecer um louvor ao governo)
Bisonhos
nas adversidades para que não estávamos treinados, metemo-nos nos tempos
macambúzios. Não ajudam, as notícias encomendadas. Hoje esbarrei numa parangona
asceta, lembrando o intuitivo: a crise faz mal à saúde. Também não ajudam os
adestradores da governação. Estimam a acostagem de trevas assustadoras. Até
parece que somos petizes mal comportados arrolados para o castigo do quarto
escuro, onde se escondem, entre os sofás e almofadas com cheiro a naftalina,
fantasmas que se locupletam do sono pueril.
E
aos que se queixam das dores da austeridade que caiu em cima do dorso, avisam
os carrascos da desgraça vindoura que o pior ainda aportará. Vivemos no sopé da
apoplexia. Como se até o oxigénio estivesse nas promessas das diluições. O
horizonte, carregado com nuvens plúmbeas de onde tombam balas lancinantes, não
deixa dúvidas. À força, voluntariados para a parcimónia para que não fôramos
educados. Afinal os hunos e quejandos têm razão: somos filhos pródigos banqueteados
na abastança das ilusões, enquanto eles, os precatados, eram diligentes na
poupança.
E
podem os cenários ensombrecer-se ainda mais? Podem. Sempre. As hipóteses não
devem ser castradas por impossibilidades. Mas, então, por que não há de o
horizonte ameaçador ser a porta de entrada para o fulgor de um céu beijado pelas
luzes claras? E se em vez de discutirmos a cor do horizonte estivéssemos diante
do colapso do céu estilhaçando-se sobre as nossas cabeças?
Podem
os tempos que aí vêm ser amanhãs repletos de perplexidade e sobressalto. Enquanto
houver perplexidade e sobressalto, ao menos há um algo. Há um céu para observar
no caleidoscópio de cores em que se compõe, pendente dos humores da batuta que
o orquestra. Agora, no restolho dos excessos, o congraçamento sem fuga. Fala-se
de sacrifícios que doem. Oxalá quando as dores chegarem ao seu cume, e os
sacrifícios já não forem tamanho imperativo, o chão seja firme. Modesto, mas
firme.
Eis
a porta que se entreabre por entre as temerosas nuvens acasteladas: do caos
espreitar um novo porvir.
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