In http://3.bp.blogspot.com/-XFLWysP2_x0/TWftFlN7VxI/AAAAAAAAAWA/5cqHXDdAnHY/s1600/arrependimento+3.jpg
Dizia-lhe:
“a penumbra do tempo anuncia um porvir
qualquer. Deves estar preparado para o amanhã que vier ao teu encontro.”
Com o olhar perdido no firmamento, parecia que as palavras entoadas se tinham
perdido entre as almofadas da desatenção. Mas o firmamento era o lugar onde
projetava as incertezas dos porvires que estivessem por entrar na sua janela.
Jogava as oportunidades umas contra as outras e golpeava os arrependimentos, os
fartos arrependimentos, que eram imparáveis tirocínios.
Depois
dos minutos necessários para decantar aquelas palavras, atirou-lhe: “mas como sei as preparações que se impõem se
nem sei as cores com que vão chegar os amanhãs?” Outro compasso de silêncio
emproou-se entre o odor a maresia e o ruído de fundo da cidade em exercício
quotidiano.
Olhavam
para lados diferentes do mar imenso que atapetava o cenário diante dos seus
olhos. Havia gente a passar, ora apressada, ora na contemplação da paisagem retemperadora.
“O cruzamento de todas aquelas
existências daria quantas peças de teatro?”, verteu a interrogação em
silêncio antes de contrapor a pergunta que adejava sobre a conversa: “só sabes que o porvir é uma incerteza
aberta. Essa é a tua única certeza. Deixa uma portinhola sempre aberta para
deitares o dorso sobre as pontiagudas pedras que o porvir te preparar. Aprende
este método: a propedêutica dos cenários cheios de sombras e melífluas
personagens é a precaução exigível. Depois não dirás que tropeçaste em ciladas.”
Desta
vez o destinatário não sopesou as palavras que embrulhavam o conselho. Tirou a
esquadria às suas próprias conclusões, imediatas conclusões: “devo estar com os dois pés atrás.
Precatar-me é a cura antes de tempo. Agora que me abres os olhos, percebi que
neste lugar há querubins que, despidos da fraudulenta auréola, são diabretes.”
Despediram-se
com um abraço que soou a frieza. Sentindo a frieza do abraço, tirou as medidas a
outra interrogação, uma silenciosa interrogação que não deu a conhecer de viva
voz: “ensinas-me a propedêutica da
desconfiança. E por que hei de confiar em ti?”
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