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Sabia-a
toda, tanta a lábia em que donzelas a fio caíam, embalsamadas pelo
deslumbramento que ele irradiava. Orgulhava-se das conquistas que registava com
a precisão de um relojoeiro. Também sabia que era o orgulho de varões
entradotes que se empanturravam (decerto apenas intelectualmente) com as suas
façanhas. Ouviam-no, embevecidos. E nem sequer por um instante duvidavam das
narrativas que pareciam retiradas de contos fantásticos.
E
sabia como era. Sabia que não conseguia resistir a um rabo de saias (ou ao que
elas escondiam e ele não tardava a desvelar). Era honesto consigo e com as
demais que outrora pretenderam ter aspirações ao laço conjugal: ele desfazia as
esperanças a zero. Ora porque as desenganava com palavras. Ora porque tratava
de desenganar as esperanças hasteando bandeira em novas terras, para deceção das
prévias moçoilas entregues em seus prantos.
Os
anos faziam o seu percurso e a idade já se fazia notar. Um dia, acordou e
descobriu que era hora de mudar de vida. Devia assentar de uma vez por todas –
prometera-se tal vocação algumas vezes, quase sempre inundado pelos vapores
etílicos (que retiravam discernimento). Se toda a gente constituía família
(fartava-se de sentir a expressão burocrática a ecoar mentalmente), também se
lhe impunha o dever. De repente, encheu-se de brios e chamou a si os mesmos predicados
da responsabilidade comum pastoreados pela gente decente. Estava cansado de ser
olhado de soslaio por mais velhos e mais novos, tamanha a fama que o precedia. Não
queria mais sobressaltos com os consortes vilipendiados pelo adultério de que
ele era involuntário fautor. As carnes cansadas já não estavam a jeito do
pugilato, se preciso fosse. Difícil não era arranjar quem estivesse interessada
em acompanhá-lo na cessação do celibato. E assim foi.
Três
anos mais tarde, como se esses três anos tivessem passado num ápice, acordou
sentado no banco dos réus de um tribunal qualquer. E só ouvia a juíza a
perguntar, com ar inquisitorial: “então o
senhor, com essa fama de conquistador, matou a mulher porque lhe descobriu
adultério?”
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