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Querias saber dos retalhos onde se resguardam os
vestígios dos segredos. Querias contos ao deitar, contos ao levantar, contos
pelo dia fora. Querias os olhos vertidos na soberba da franquia do sangue que
escorre nas veias. E querias: que as paredes onde as mãos se acolhem não fossem
a ilusão ditada pelo olhar. Os olhos percebiam a existência dessas paredes. As
mãos, por mais que as tateassem, não sentiam nada. As angústias desaguavam no
cais dos segredos.
Era onde a espessura das coisas se escondia nas
múltiplas sombras de onde elas dimanavam. As pedras cobertas de musgo, do musgo
encardido pela maresia em estado líquido, sobravam como reinos onde habitam os
segredos inconfessáveis. Era pelas reentrâncias das pedras, nas fendas
colonizadas pelo musgo hirsuto, que os segredos antolhavam seu refúgio.
Escondiam-se dos olhares indiscretos, do brado que queria espiolhar pela
fechadura à cata de segredos detestáveis. Dos mesmo segredos que, embora
detestáveis, eram o sangue vertido onde se empanturram os pesarosos de si
mesmos.
O segredo dos segredos estava numa chave. Dourada,
como convém às coisas que ambicionam estatuto precioso. Era um paradoxo. Como
podia uma chave dourada pretender a ausência das atenções? Como podia,
sobretudo em dias soalheiros, com o sol a esbanjar-se nos objetos metálicos, a
chave dourada ser anónimo objeto? Alguém que encontrasse a chave ficaria na
posse das alcavalas escondidas nas intimidades. Não tivesse escrúpulos, esse
mercenário desnudava todas as existências que viessem pela frente. Sem obséquios.
Um dia, depois de tempestades sucessivas, com ondas
a crescerem desde as profundezas do oceano até se esmagarem com fragor nas
pedras do cais, elas perderam o seu cimento. O musgo protetor dissolveu-se,
frágil perante a indomável força das marés. As pedras abriram fendas. O cais
dos segredos perdeu o nome. E os segredos, para vergonha de quem os abrigava
dos olhares famintos, deixarem de o ser.
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