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Mário Soares não
acusa a provecta idade. Todas as semanas põe-se a perorar sobre a crise na
Europa. Atira-se a Merkel com o mesmo cavalheirismo com que comentou o discurso
de Nicole Fontaine (que o derrotara para a presidência do Parlamento Europeu)
como “digno de uma dona de casa”. A
propósito da degradação do rating da
França e da Áustria (e de mais sete países da zona euro) imposta pela Standard
& Poor’s (S&P), emitiu sentença senatorial: “são os Estados que têm que impor respeito aos mercados
e não o contrário”. Pelo caminho atiçou outra vez Merkel (supondo que a
senhora o lê) com a boutade dos maus
pergaminhos dos alemães, pois se estes facínoras “provocaram duas guerras mundiais e mataram milhões”, como se atrevem
a dar-nos “lições de moral?”
Convém lembrar que
os países, quando se põem na posição de devedores, pedem dinheiro emprestado
aos mercados. E, já agora, os mercados não são apenas os odiosos investidores
com o fito do lucro especulativo. Os mercados somos todos. Qualquer um de nós,
mesmo que não tenhamos poupanças, pois (por exemplo) os nossos descontos para a
segurança social são aplicados nos mercados financeiros. Se os países pedem
emprestado aos mercados, é aceitável que os Estados ponham a mão nos mercados e
nas agências que os avaliam enquanto devedores com mais ou menos credibilidade?
Este “golpe” da
S&P não foi por acaso. Na véspera vieram a conhecimento notícias das
negociações para acertar o texto do tratado intergovernamental sobre a união
orçamental. Num documento que já vai na terceira versão, os negociadores vão de
flexibilização em flexibilização. Por este andar, com tantas exceções
inventadas à última hora, a regra passará a ser a exceção e a exceção emproa-se
em regra. Talvez os matreiros mercados não tenham encaixado a hipótese de os
países poderem voltar à tripa-forra orçamental que Soares conhece dos tempos em
que foi primeiro-ministro. A menos que, num tremendo golpe conspirativo, a
S&P esteja mancomunada com a Alemanha (dos poucos países que escapou à
revisão de rating)...
Quanto
ao estigma lançado sobre os “alemães”, desconte-se o mau gosto proverbial e
talvez fosse caso para perguntar a Soares se não seria de proibir os “alemães”.
Será justo imputar a estes alemães (os contemporâneos) responsabilidade pelos
crimes cometidos por alguns dos seus antepassados? Infelizmente para Soares, é
impossível fazer história contra-factual em retrospetiva.
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