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Dos vetustos armários, poeira inútil, teias de
aranha mortiças. Arranjava pretextos para ocultar a luz que irradiava lá fora e
pedia licença para entrar na casa. Mas as janelas teimosamente fechadas eram
tiranas, algozes que condenavam a casa a uma escuridão maligna. Foi assim por
anos a fio. Lá dentro, apenas a chama acanhada de umas velas acesas decantava a
escuridão. E as sombras que se confundiam com fantasmas que locupletavam o
sono.
Um dia, foi como se um fusível entrasse em
curto-circuito. A medo, enquanto o pensamento rasgava as trincheiras em que se
julgava enquistada, desviava os óculos que protegiam os olhos do sol abrasador.
Desde que abandonara o internamento no manicómio era a primeira vez que desafiava
o sol. A medo, de começo. Tirou os óculos enquanto mantinha os olhos fechados,
como se o cimento colasse as pálpebras. Arfava nervosamente. Ainda tinha os
olhos fechados e já uma claridade invadia o espectro da visão interior. Uma
colherada enorme de ar sorvido trouxe a dose final de coragem. A medo (que os
fantasmas exorcizados podiam aparecer quando menos contasse), destapou as
pálpebras. Os olhos ficaram nus, sozinhos diante do sol. Não confirmou os
piores temores. As sombras temidas não ensoberbeciam em redor.
Os dias corriam sem sobressaltos. Como eram
distantes os dias de internamento no manicómio. Como eram vagas as evocações
desse tempo terrível. Estes anos depois admitia que foram terríveis meses
necessários. A serventia estava à mostra. Já não sobrevoavam as sombras
constantes de outrora. Os fantasmas que se encavalitavam nos ombros arqueados
estavam em hibernação. Sabia-os existentes, mas em hibernação. Sabia que podiam
acordar sem aviso. Não importava. O êxtase das sensações que dantes se impusera
como proibições a si mesma tratava de exorcizar os fantasmas.
As sombras, essas, apenas uma fina camada, quase
impercetível, só para manter presente a existência de um passado. Descobrira a
semente das águas calmas que haveriam de resistir pelo tempo fora. E isso era o
que mais importava.
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