10.1.12

Em volúpia


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(Eventualmente com bolinha vermelha ali no canto superior esquerdo...)
Era um arrebatamento. Um demónio apoderara-se primeiro dos poros, entrando fundo na carne com o perverso vício lascivo, o imparável vício. Ela não tinha mão na pulsação vertiginosa, no rubor que enxameava o rosto com as cores do desejo, no olhar luxuriante. As veias latejavam nas cinzas de um incêndio que o demónio ateara.
Abeirou-se dele. Não perdeu tempo. Nem gastou palavras, que elas podiam fundir o abrasador desejo que a consumia. Agarrou-o. Atónito, deu conta de um beijo voluptuoso até às entranhas. Empurrou-o contra a parede e desembaraçou-se da roupa que era incómodo. Os olhos ferviam a cada fatia de ar que a respiração arfante embolsava. Ele esboçou um sorriso, um malicioso sorriso. Escorregou pela parede abaixo até ancorar no chão. As mãos estendidas na madeira fria, as mãos aquecidas pela ebulição que atingia ponto indomável. O maldito inverno que adestra o agasalho era o imponderável, ela atrapalhada na apressada tarefa de se desembaraçar das roupas que estavam a mais (e eram todas). Estacou à frente dele só com a roupa interior. Com um olhar indulgente, provocante. À medida que estendia a mão em demanda de um pouco de regaço daquele corpo ardente, ela deitou outra estocada para o jogo das sombras: recuou num passo, virou-se e correu pela sala, para o lado contrário da casa, atirando em voz rouca “vem atrás de mim”.
Sem se estugar, levantou-se do chão e fez-se ao caminho. Também ele dizendo adeus às roupas ali excessivas, vagarosamente na senda do esconderijo onde os corpos teriam a sua combustão. Encontrou-a. Despojado de iniciativa, a sua boca foi outra vez tomada pelos lábios ensoberbecidos que estavam à espera. As mãos tocaram-se. Tocaram nos corpos recíprocos.
Do campo de batalha soergueram-se na posse do triunfo indesmentível. Os corpos em mútuo repouso, os dedos dele ajeitando os cabelos desgrenhados dela, os dela passeando na pele ainda suada dele. Não houve palavras. Apenas os olhares que se metiam nos olhos um do outro, entoando mentalmente as palavras acertadas.

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