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A amiga, em tom de réplica, solta os freios dos
decibéis contra o, talvez, picuinhas sermão contra os narcisistas: “e se não gostarmos de nós, quem o faz?”
Ainda explicou, com exemplos de personalidades que
avivam as cores insuportáveis do narcisismo, a alergia ao género. Bateu à porta
errada. Todas as personalidades passadas em desfile caiam-lhe no goto, o que
não ajudava ao reconhecimento do opróbrio. Tentou ver na identificação pessoal
dela com companhia pouco recomendável uma brecha para disparar as setas todas
contra os narcisistas. Não teria aquele enfado ancoragem na pessoal
identificação com as personagens arroladas? Não estaria ela a perceber o que era
um narcisista? Ao que ela insistiu: “se
eu não gostar de mim, se eu não for, por cima de toda a gente, a minha maior
fã, quem o será?”
Esgotavam-se os argumentos que compunham a retórica
alinhavada. Deitou mão ao derradeiro: era embirração pessoal, os narcisistas
que enxameiam o mundo, ocupando um lugar desproporcionado à sua tamanha
mesquinhez. Quase a capitular, admitia, sem proferir tais palavras, que exibir
exemplos que povoam as incomensuráveis vaidades de si mesmos fora um erro. Sem
demora, ela atirou-lho à cara: “conhecemos
essas personalidades para além da cortina de fumo que ostentam quando são
públicas figuras?”
Encostado às cordas, a respiração ofegante retirava
lucidez ao entendimento. Que transbordou das margens, como se o cérebro fosse
tingido pelo sangue vindo de uma hemorragia, quando ela disparou de rajada os
tiros certeiros: “não me digas que não te
julgas o centro do universo. Não me digas que não ensimesmas. Não me digas que não
julgas tudo em redor pela tua pessoal bitola. Não me digas. Que não acredito.”
Desamparado, notou uma gota de suor a descer da
fronte para o rosto. É o que dá quando elucubrações sofisticadas se desfazem
num tremendo nada. Afinal, todos seriam narcisistas – apuraram os sentidos,
agora que tinha baixado a guarda e estava, inerte e refletivo, a um canto da
sala.
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