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Implacável. Como os
ventos indomáveis que sopram das alturas e retorcem as entranhas da terra. O
contrário de um barbitúrico, fazes-te alter ego das mais medonhas tempestades.
Anuncias-te quando colonizas o céu, desapossando-lhe o azul que incendeia a
claridade. Trazes contigo as nuvens espessas que, de mão dada com o vento, hão
de semear o caos. Nota-se um esgar lépido quando os meteorologistas te
antecipam a vontade com “alertas vermelhos” que são o breviário da confusão. Transbordas
ventos ciclónicos com o espaçamento da chuva, tornando inúteis os
guarda-chuvas, as paliçadas que os precavidos montaram nas portas, nas janelas
das casas e dos comércios.
Não te apoquentas
com as gentes apavoradas com se preparam para a tua chegada. Por mais que se
habituem às tuas sazonais manifestações iracundas, sobressaltam-se quando o
filtro do radar pressagia a tua ancoragem. Cresces desde o oceano. O teu
nutriente são as suas tépidas águas, de onde se avivam nuvens ao início
alvas, entretanto escurecidas com o volume de mar haurido. Abeiras-te de terra
firme, onde já ninguém te espera sem contar. É o teu íman, a terra firme:
cresces, medonho, quando farejas o odor da terra, dos edifícios, dos campos
cultivados, da gente que se consome em suor destilado sob a batuta da humidade
tropical.
Quando pões um pé em
terra firme, parece que te vingas pelo desligamento marítimo. Selas a vingança
pelo vómito da água do mar que foste bebendo na tua encolerizada trajetória.
Para redobrar a malícia, sopras o vento furioso que aplaca os demónios
interiores em que te debates. Tanta, e irada, é a ventania que ninguém se
atreve a vir à rua. Há telhados em desgovernadas coreografias aterrando no meio
do jardim onde jazem ramos, folhas, árvores depostas. Casas que perderam
privacidade, esventradas pelas manápulas indecentes da tua passagem.
E tu, do alto da
tua sobranceria, ris desalmadamente como se não houvesse amanhã. Mandas os
elementos adormecer a sua fúria. O mal já estava feito. Quando o sol se
recompôs, tu ainda estavas (mas escondido) a apreciar as gentes de mãos à
cabeça na ladainha da reconstrução. Um pouco sórdido, talvez.
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