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No dia
depois da revolta, a cidade estava em ebulição. Sentia-se o pulsar das veias
que andaram tanto tempo açaimadas pelo estupro dos capitalistas. A gente andava
alegre pelas ruas. As pilhagens tinham sido contidas. Não se confirmaram as
previsões dos mais céticos – que a revolta ajuramentava uma rebelião fora de
controlo. As pessoas continuavam a viver à míngua, mas deram uma lição: a
dignidade não é comprada com um maço de notas, nem com a soberba dos
triunfantes de uma peleja.
O circo
de rua não tinha terminado. As vontades populares continuavam a vir à boca de
cena em cada areópago montado em praças amplas. Havia uma junta que dizia ter
as rédeas da situação. Até os amotinados, quase todos, percebiam que a anarquia
seria a doença letal para aquela depauperada terra. Nas assembleias onde os
espontâneos pegavam em microfones para perora, um pouco de tudo. Psicopatas
inquietos, vozes sobressaltadas pelas iniquidades, outras ainda desconfiadas se
a revolução tinha sido a sério. E alguns doutrinadores. Adivinhavam-se à distância.
Tinham pelo menos meia-idade e muitos confluíram à cidade dos sonhos.
Numa
das praças, as imagens da televisão reproduziram a prédica de um doutrinador. O
negociador internacional mais teimoso, o que não parecia dobrar perante o temor
de maus tratos pela turba enfurecida, deitava os olhos às imagens. Assimilava
as palavras do doutrinador excêntrico:
“Aqui vocês já conseguiram. Correram com os
agiotas e seus lacaios. Que sejam outra vez berço da civilização, é o repto que
corre pela Europa fora. Um ato de esperança. A esperança mora em vocês. Saibam
mantê-la acesa. Expliquem por aí fora como desmascararam os pérfidos
banqueiros. Denunciem a sua conspiração com os políticos vendilhões. Aqueles que
traíram a representação do povo e se aconchegaram nos lautos aposentos do
grande capital. Deram guarida aos banqueiros. Mudaram políticas só para o povo
se hipotecar junto dos bancos. É uma cordata maneira de fazer fascismo pela
porta do cavalo. Um exército de gente empenhada até ao tutano é alimento fácil
para banqueiros desapiedados.”
O
negociador internacional começou a sentir uma inquietação interior. E o pior é
que não era alergia àquelas palavras, parecia enfeitiçado pelo doutrinador. O
homem devolveu uma interrogação a si mesmo: “e se aquele filósofo estivesse coberto de razão?”
4 comentários:
O grande problema é que estás cheio de razão; o desmesurado problema é que não há solução à vista... estamos, mesmo, sob a ditadura da dívida.
Sérgio, eu ia mais atrás: estamos a pagar pela irresponsabilidade e pela incompetência de quem nos endividou até ao tutano.
Sem dúvida. Falta processo sobre essa gentalha...
Infelizmente, inimputáveis...
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