15.2.12

“Os banqueiros queriam meter o fascismo pela porta do cavalo” (capítulo IV)


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No dia depois da revolta, a cidade estava em ebulição. Sentia-se o pulsar das veias que andaram tanto tempo açaimadas pelo estupro dos capitalistas. A gente andava alegre pelas ruas. As pilhagens tinham sido contidas. Não se confirmaram as previsões dos mais céticos – que a revolta ajuramentava uma rebelião fora de controlo. As pessoas continuavam a viver à míngua, mas deram uma lição: a dignidade não é comprada com um maço de notas, nem com a soberba dos triunfantes de uma peleja.
O circo de rua não tinha terminado. As vontades populares continuavam a vir à boca de cena em cada areópago montado em praças amplas. Havia uma junta que dizia ter as rédeas da situação. Até os amotinados, quase todos, percebiam que a anarquia seria a doença letal para aquela depauperada terra. Nas assembleias onde os espontâneos pegavam em microfones para perora, um pouco de tudo. Psicopatas inquietos, vozes sobressaltadas pelas iniquidades, outras ainda desconfiadas se a revolução tinha sido a sério. E alguns doutrinadores. Adivinhavam-se à distância. Tinham pelo menos meia-idade e muitos confluíram à cidade dos sonhos.
Numa das praças, as imagens da televisão reproduziram a prédica de um doutrinador. O negociador internacional mais teimoso, o que não parecia dobrar perante o temor de maus tratos pela turba enfurecida, deitava os olhos às imagens. Assimilava as palavras do doutrinador excêntrico:
Aqui vocês já conseguiram. Correram com os agiotas e seus lacaios. Que sejam outra vez berço da civilização, é o repto que corre pela Europa fora. Um ato de esperança. A esperança mora em vocês. Saibam mantê-la acesa. Expliquem por aí fora como desmascararam os pérfidos banqueiros. Denunciem a sua conspiração com os políticos vendilhões. Aqueles que traíram a representação do povo e se aconchegaram nos lautos aposentos do grande capital. Deram guarida aos banqueiros. Mudaram políticas só para o povo se hipotecar junto dos bancos. É uma cordata maneira de fazer fascismo pela porta do cavalo. Um exército de gente empenhada até ao tutano é alimento fácil para banqueiros desapiedados.
O negociador internacional começou a sentir uma inquietação interior. E o pior é que não era alergia àquelas palavras, parecia enfeitiçado pelo doutrinador. O homem devolveu uma interrogação a si mesmo: “e se aquele filósofo estivesse coberto de razão?

4 comentários:

Sérgio Lira disse...

O grande problema é que estás cheio de razão; o desmesurado problema é que não há solução à vista... estamos, mesmo, sob a ditadura da dívida.

PVM disse...

Sérgio, eu ia mais atrás: estamos a pagar pela irresponsabilidade e pela incompetência de quem nos endividou até ao tutano.

Sérgio Lira disse...

Sem dúvida. Falta processo sobre essa gentalha...

PVM disse...

Infelizmente, inimputáveis...