In http://d1tzcc9zme1qd1.cloudfront.net/images/photos/699/3/medium/365931.jpg
Desaguara num prado lunar. A terra
preta parecia o adro onde a ausência de vida berrava bem alto. As rochas
contorciam-se, o emaranhado do que sobrara da erupção do vulcão. Mar adentro,
língua de fogo que tivera refrigério nas águas bravas do mar. O basalto
enegrecido tomou conta da paisagem que os olhos conseguiam ver. Até o mar
parecia tingido com as cores sonâmbulas que desciam dos contrafortes do vulcão
extinto até repousarem em seu leito marinho.
Partiu em demanda da paisagem insólita.
De onde viera, não estava habituado a frequentar paisagens encenadas pelas singulares
irritações de vulcões. Meteu a mão no mar: a água era quente, parecia que as
rochas já esfriadas por séculos de hibernação do vulcão ainda emprestavam calor
ao mar. Podia ser apenas impressão, a majestosa paisagem lunar adulterando os
sentidos.
O lugar parecia interdito a gente, a
julgar pelo estado deserto que rimava com o lugar hostil. Todavia, era atração
turística, não era um lugar escondido pela paisagem inacessível. Julgara saber,
por narrações alheias, que era atração turística por engano. A gente local
dizia à boca pequena que o sítio estava assombrado, que havia diabretes soerguendo
o pescoço das fumarolas que respiravam entre as frinchas da lava arrefecida.
Lendas contavam que à noite ninguém tinha coragem de descer a estrada sinuosa
até à praia atapetada pela aridez da lava. Fantasmas medonhos vagueavam entre
as rochas basálticas e levavam a alma de quem por lá se aventurasse – contavam
as lendas.
A lava que esbracejava no seu
contorcionismo cénico era o estertor onde vida alguma conseguia medrar. De lá
se dizia, outra vez no boca-a-boca local, que a lava era madrasta. Uma
observação mais cuidada desfez os mitos. Umas ervas pequenas, porventura
arbustos que de pouco água se alimentam, rebentavam entre as frestas da lava.
Desmentia-se a voz popular. A lava não era madrasta. Era santuário de uma
tímida, e contudo destemida, vegetação. Saiu do inóspito lugar. Uma imagem
repetia-se na tela mental: os tufos esverdeados que se subentendiam entre a
aridez da lava.
A vida é possível. Mesmo quando se
convencionou a sua impossibilidade.
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