5.3.13

O guião do desperdício


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Agora que o tempo se desdobrava em múltiplas partículas; e que as múltiplas partículas do tempo tinham de ser ocupadas para da monotonia não ficar refém, curava de assuntos que outrora seriam ninharias sem atenção. A lente por que observava as coisas era outra, acutilante e atenta ao que ocupasse o espaço em redor – nas paredes das casas, nas árvores aforradas à desatenção, nas palavras desalfandegadas das entrelinhas de um livro, em palavras ditas por gente, conhecida ou não.
Uma das balsas com a compartimentação das raridades era o desperdício. E não era só o lixo – que mais adiante lá irá em pronunciamento. Era o desperdício como equinócio da economia que é esta. Nem têm valimento os desaforos ao capitalismo, não era isso que estava em causa (por causa da desafinidade com os habituais tutores da destruição do capitalismo). Sem querer andar de braço andado com os mastins que são atiçados contra o lucro, metia-lhe espécie que a economia fosse logradouro de tanto desperdício. Elogiava os ambientalistas que ensinavam a desabitar o desperdício gratuito – mas logo a seguir seguia nos seus antípodas, quando eles mascaravam ideias com punhos de renda radicais. Mesmo o desperdício cingido ao indiscutível estava amarrado – assim o descobrira – a um ancoradouro que era apenas um retrato mental.
As crises, aquelas que são um demorado ocaso com as cores plúmbeas da tempestade, são um oráculo de pobreza, uma privação de recursos. Deviam ser as crises o palco acertado para a redefinição do desperdício. Não era apenas questão semântica. Era preciso ir ao epicentro do problema, desacertar os relógios que ensinam o desperdício. E o que dantes, nas alturas abastadas, fosse desperdício, deixaria de ser. Nem que preciso fosse uma matilha de gente afoita que errasse pelo lixo à cata de aproveitamentos. Nas crises, quando os peritos ensinam que estamos longe do potencial, que se reaproveite o que não estiver perecível sem remédio. À míngua de recursos, o que se julgasse ser património das lixeiras devia ser requisitado à utilização sucessiva. Até se desagastar tanto que já não houvesse serventia.
Estava neste estado, em preparos para dar utilidade às múltiplas partículas do tempo que eram sobrantes, quando tomou uma resolução: não era economia que precisava de estudar. Era a antieconomia dos tempos modernos, ou – arriscava a ousadia dos leigos – a economia do porvir. 

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