https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtPZCIWNNOPsbaMHGILAGNYg4H_b6k1v5i8cc07m0N_flu4xhTgCfwgVQnHoflW8hIof6kMoTIZEE720mu16eUZd0IngOhMZjRyJj0s7ANA9kl9Ae4R8pDNB0DrrOjYNjKtixuoQ/s1600/Pega+de+Cernelha.jpg
Dava voltas e voltas. Virava as
páginas que julgava encardidas, as páginas que, todavia, eram um desengano do
tamanho maior. O mundo era espreitado pelos óculos turvados pelas cinzas de um
vulcão. Os olhos anestesiados pautavam a ilusão do corpo. Tudo parecia uma
miragem. Ornamentada a ouro, as águas límpidas correndo em seu leito, as
pessoas já não sabendo o norte da boçalidade, e todas as impurezas regressadas
ao cárcere sombrio de onde saída jamais devia ter sido franqueada.
Entre a levitação do pensamento que
ocupava horas a fio, esbarrava na água fria. O mapa celestial era uma
especulação tardia. Ao entardecer, no ocaso escondido entre as nuvens que
toldavam o horizonte, metia os dedos na carne e sentia os pesares. Lembrava-se
das lágrimas vertidas, da sofreguidão com que a angústia tirara o chão debaixo
dos pés. Mas depois o olhar levantava-se do chão ido, fitava os fundilhos do
céu e temperava-se de ânimo. À míngua de chão havia outros chãos por pisar, que
aquele estava gasto e despedaçara-se em mil estilhaços quando os pés troaram a
sua fúria indomável. Os novos chãos eram singulares, um desconhecimento em
essência.
O que nunca o outrora desvendara era
o tapete floral diante dos pés. Metia-se pelo firmamento fora o tapete encantado,
parecia de encontro marcado com o infinito. Um velho com rugas pronunciadas
veio ao seu encontro. Segredou-lhe para não se encantar com o bucolismo que
tomava freio nos seus olhos. A paisagem era ardilosa – avisara –, os espinhos
escondidos entre o tapete ou no meio da folhagem frondosa à espera da primeira
estocada para bolçarem o veneno letal.
Tomou-se alertas nos olhos ensonados.
Antes uma insónia demorada na demanda pelo tapete florido onde as flores eram
de cores mais que o arco-íris. Não lhe fora dada a oportunidade para errar
(desta vez). Pedia a si mesmo para ser imarcescível na levitação que encenava
um palco formoso, um palco em fina farinha de arroz que se desfazia mal
andassem mãos pelo seu dorso. A empreitada era para ser tomada de cernelha. Num
gesto robusto, com as mãos secas para se segurarem com firmeza ao dorso da
besta enraivecida.
No fim, a cernelha com o dom de
amestrar a besta. A sua carne fora amaciada pelo gesto robusto que a ela se atou.
Umas mãos feiticeiras trataram do resto.
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