29.3.13

The next big thing


In http://www.paramatma.com.br/decoracao/dec/images/bau%20-%20mini.jpg
Não estava conversador. À roda da mesa, os convivas engendravam a conversa, as ideias fluindo sem ordem que não fosse a do vinho vertido. Estava apenas ouvinte. E pensador nas palavras tartamudeadas pelos outros. Numa esquina da conversa, alguém falou de um grupo islandês que dera a conhecer umas músicas do disco ainda não publicado. Um deles sentenciou: “é Joy Division puro e duro!” Outro não discordou, não dera toda a atenção às músicas que ostentavam aquela comparação. Mas opinou: “cá para mim, os Interpol são os legítimos sucessores dos Joy Division.” Um terceiro amigo que estava na amesendação travou-se de razões: “e não serão os National a merecer a comenda?
Ele ouvia, enquanto se desligava da traficância de argumentos. E enquanto se desligava da discussão afinada sob a batuta do álcool (e, talvez por isso, os argumentos e contra-argumentos perdessem sentido à medida que neles se entranhava a exaltação), dava consigo mortificado pelos elos adoentados dos dias recentes – a penosa experiência da caridade, o cair em si na gravidade do involuntário ócio que podia ser uma persistência, o paradoxo da emigração. Desligava-se das derivações da conversa quando ela o chamava através de um dos seus intérpretes: “alguém te soa a Joy Division?
Encolhia os ombros, tal o desinteresse no assunto, sem que o desinteresse viesse cativar o pasmo dos demais pois depressa se entregavam a nova revoada de ideias buriladas para o convencimento dos oponentes. Enquanto mantinha o silêncio prudente, não fugia da resposta que tinham pedido. Remoía as ideias que não chegavam a ter expressão em palavras ditas. Ficaram, as ideias, guardadas no pensamento. O que teria de dizer podia destruir o alvoroço que ungia a mesa no restolho da refeição. Descobrira um método que já não era recente: impedia a audição de tudo o que fosse prometido como herdeiro dos Joy Division. Incomodava-lhe a ideia de que os Joy Division deixaram um legado por terminar. E que três décadas depois (como já tantas vezes acontecera pelas outras décadas fora), novos Joy Division com outros nomes irrompessem. Mal alguém carregasse às costas a torpe incumbência de ser herdeiro dos Joy Division, deixaria de ser ouvido.
Esta insistência em recuar ao tempo perdido no macilento passado tinha um equívoco fio condutor com as incógnitas que o intimidavam. Uns, instalados e sem dores de sobrevivência, desdenhavam do presente de cada vez que iam ao pretérito buscar a linhagem escondida no tempo atual. Outros (ele), perseguiam uma centelha que fosse anúncio do tempo vindouro. Que interessavam os pretéritos se dali já não recolhiam serventia alguma?
Despediu-se antes da amesendação ter findado. A pergunta mantinha-se a vermelho incandescente sob a memória (e não era sobre os putativos herdeiros dos Joy Division): haveria de emigrar? A desidentificação que podia apenas ser espuma momentânea era outro manso gorjear a favor da partida. A caminho de casa percebeu que caíra num logro (de que não dera conta se não mais tarde): se tivesse demorado por toda a estéril discussão, saberia se era motivo para emalar os pertences rumo ao distante.
O troco para a pergunta perene daqueles dias é que era the next big thing.

Sem comentários: