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Sobre “o nosso dever de falar”
(Cesariny): falar para derrotar o silêncio. O silêncio que arpoa uma solidão
sem o ser, mas em que o não sendo (porque há presença física) nela se torna por
omissão de palavras. Por isso impõe-se haver dois dedos de conversa. Nem que
seja sobre os mais frívolos motivos, da meteorológica conversa que discorre
sobre o tempo que faz, à estafada temática do tempo que percorre as margens da
existência com uma velocidade alucinante.
À falta de melhor, dois dedos de
conversa. Sobre a atualidade. Ou um filme. Ou o mar encantatório. Ou a lua
contumaz. Ou um livro perturbante. Ou as arrelias da humanidade. Ou a crueldade
da pena de morte. Ou as sombras que se escondem detrás dos espelhos. Ou a
música. Ou os sentimentos humanos que se enovelam em paradoxais formas. Ou as
angústias que são consumição interna. Ou, por que não?, da matéria que nos tece
o orgulho. Nem que seja para retirar da moldura do tempo as memórias. Mas sem
escorregar para as vidas outras que só aos outros interessam – pois que se as
vidas outras locupletam o tempo da conversa, é sinal de que as vidas próprias
são enfadonhas.
Dois dedos de conversa. Que se fazem
três, desmultiplicam em quatro, numa progressão que vá na direção do infinito.
Pois as palavras não devem ter freio nem fim estimado. Devem ser um frémito
espontâneo, mesmo que às vezes elas venham amalgamadas no pulsar instantâneo e
sejam palavras que doem. Nem que assim seja: pois a elas se seguem outras que
são arrependimento, o devolver das impensadas palavras à procedência da
irreflexão. Mas sempre uns dedos de conversa que não podem perder oportunidade.
Como galhos de árvores fecundas, nas noites brancas como nos dias plúmbeos, com
os olhos que percorrem as águas mansas de um rio ou as ondas tumultuosas do
mar.
Pois sobre tudo há palavras prontas para
serem entretecidas, na subjugação do silêncio que transforma a penumbra em
clarão. Em homenagem ao “nosso dever de falar”.
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