You Can't Win, Charlie Brown, "Be My World", in http://www.youtube.com/watch?v=B0Z-0KmEwc0
Não é saber que segue quem. Não é saber
quem usa a batuta, ou quem exorciza fantasmas (que já nem são sombra da
memória). Não é saber se andamos em demanda do futuro. Podiam-nos garantir mil
anos de existência, que o tempo de agora continuava a ser o que importa.
E o que importa? Abrimos a janela pela
manhã e somos donos da maresia que se insinua. Somos donos do mar que beija a
orla com a sua generosa beleza, o majestoso mar que amansa espíritos que se
jugavam indomáveis. Somos donos. Do que nos apetecer. Quando nos apetecer. Sem
peias. Sem lições de algures vociferadas por velhos guardadores de costumes, ou
uma profusão de candeias que prometem emprestar uma lucidez altiva, como se
estivéssemos carentes de um farol. O que importa são os passos que damos que
são uma sinfonia, a síntese da fulgurante claridade das manhãs luminosas. O que
interessa é que nem mesmo as manhã desanimadas, com nuvens carregadas de
escuridão depondo o sol nascente, nos demovem de entrarmos na fusão dos mundos
que foram parcelas de dois e agora se transfiguraram, em harmonia, para sê-lo
um só.
O que interessa é deixarmos as lentes
que o exterior em nós quis açambarcar, porque somos livres e deixamos o
exterior no lugar a que pertence – o exterior. E corremos atrás do vento, às
vezes parecendo dementes, porque na fusão dos nossos mundos convencionamos que
detemos o vento entre os dedos. Para o moldarmos, na vez de arquitetos das
formas, até que uma estátua formosa cresce desde a irradiação dos nossos dedos.
Corremos atrás do vento porque sabemos que todas as horas são apontadas ao
tempo que se consome sem se desgastar. Nunca é tarde, nem nunca deixará de ser
cedo. Enquanto formos tutores do tempo, caminhando na areia alisada pela
nortada ao entardecer, à medida que os olhos ditam o crepúsculo e comandam a
deposição do sol no firmamento.
Pois o hoje a nós veio. E do amanhã, não
curamos de saber. Pois do hoje não nos despojamos.
1 comentário:
Gosto de música que causa emersão, de palavras com aroma a maresia, de ver o mar a nadar ao som de uma luz lavada, da fusão entre o céu e a terra…
Gosto da forma como a linha do tempo é cinzelada neste espaço.
“O Tempo, esse grande Escultor” (Marguerite Yourcenar)
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