29.5.14

Make a wish

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Emagreceu as aflições, porque um dia apareceu um Aladino. Já tinha ouvido lendas sobre gente afortunada a quem tinha havido por aparição um Aladino. E de como se transformaram doravante, com as aflições de partida e o tempo abençoado pela ventura. Continuava na posição da desconfiada metódica, pois aprendera que as lendas eram isso mesmo, lendas. A menos que fosse testemunha direta de uma delas, até lá confiava não acreditar em mitos. Não contavam com ela para alimentar o sargaço de efabulações mitológicas.
Naquela dia sentiu-se na necessidade de bater na boca. Era como se o Aladino por diante cuidasse de a ela subir uma espontânea contrição. A seguir, o Aladino perguntou-lhe pelos desejos que seriam correspondidos pela graça que lhe fora outorgada. Como era habitual, às perguntas respondia com interrogações complicadas que nelas se engatilhavam:
- Diz-me quem te enviou? És produto da graça divina?
- O que importa saberes quem me colocou na tua senda? Não queres antes aproveitar a minha revelação? Muitos como tu diriam oxalá à minha descida aos seus olhos.
- Não me entendas mal. Não te desdenho, nem estou a demitir a tua revelação. Aos meus pedidos já vamos de seguida. Mas rogo que satisfaças esta curiosidade.
- Só se me disseres antes o que motiva essa curiosidade – mas advirto que a minha revelação tem prazo de validade, e que o prazo se esfuma nuns minutos.
- É que – sabes? – tenho de resolver os meus problemas com deus. Teimo na sua inexistência, mas é custosa esta ateia linhagem que por mim flui.
- Posso entender que o teu desejo é a resposta à dúvida metódica?
- Podemos começar por aí, se não for importunação para ti – insistiu ela, sem lhe ser dada a recordar a advertência já feita por Aladino.
- Agora é a minha vez de responder através de uma pergunta prévia: o que te faz crer que sou criação divina, ou embaixador de um deus que, por esta descida a um lugar terreno, aponta um escolhido?
- Desconfio. Nem em sonhos acredito em mitos. E tu estás na categoria dos mitos.
- Mas esta revelação não é do domínio da mitologia. Ou das lendas narradas com o azimute dos néon que emprestam luminosidade às histórias fantásticas. Nem, isso te garanto, estás por dentro de um sonho.
- Estás a sugerir que não vens encomendado por deus...
- A conclusão é tua.
- ...mas isso não me garante que deus existe, ou que não existe.
- Dou-te a resposta: deus...
De repente, o Aladino evaporou-se numa fugaz névoa. E ela ficou sem satisfazer os desejos que nem sequer conseguiu esboçar assim lhe apareceu, em pose altiva mas magnânima, o Aladino que julgava ser uma lenda. Ficou com as mãos cheias de nada. E nem a dúvida existencial, que a manda pela ladeira do ateísmo, tratou de encontrar resposta.

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