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Emagreceu as aflições, porque um dia
apareceu um Aladino. Já tinha ouvido lendas sobre gente afortunada a quem tinha
havido por aparição um Aladino. E de como se transformaram doravante, com as
aflições de partida e o tempo abençoado pela ventura. Continuava na posição da
desconfiada metódica, pois aprendera que as lendas eram isso mesmo, lendas. A
menos que fosse testemunha direta de uma delas, até lá confiava não acreditar
em mitos. Não contavam com ela para alimentar o sargaço de efabulações
mitológicas.
Naquela dia sentiu-se na necessidade de
bater na boca. Era como se o Aladino por diante cuidasse de a ela subir uma espontânea
contrição. A seguir, o Aladino perguntou-lhe pelos desejos que seriam
correspondidos pela graça que lhe fora outorgada. Como era habitual, às
perguntas respondia com interrogações complicadas que nelas se engatilhavam:
-
Diz-me quem te enviou? És produto da graça divina?
-
O que importa saberes quem me colocou na tua senda? Não queres antes aproveitar
a minha revelação? Muitos como tu diriam oxalá à minha descida aos seus olhos.
-
Não me entendas mal. Não te desdenho, nem estou a demitir a tua revelação. Aos
meus pedidos já vamos de seguida. Mas rogo que satisfaças esta curiosidade.
-
Só se me disseres antes o que motiva essa curiosidade – mas advirto que a minha
revelação tem prazo de validade, e que o prazo se esfuma nuns minutos.
-
É que – sabes? – tenho de resolver os meus problemas com deus. Teimo na sua
inexistência, mas é custosa esta ateia linhagem que por mim flui.
-
Posso entender que o teu desejo é a resposta à dúvida metódica?
-
Podemos começar por aí, se não for importunação para ti – insistiu ela, sem lhe ser dada a recordar a
advertência já feita por Aladino.
-
Agora é a minha vez de responder através de uma pergunta prévia: o que te faz
crer que sou criação divina, ou embaixador de um deus que, por esta descida a
um lugar terreno, aponta um escolhido?
-
Desconfio. Nem em sonhos acredito em mitos. E tu estás na categoria dos mitos.
-
Mas esta revelação não é do domínio da mitologia. Ou das lendas narradas com o
azimute dos néon que emprestam luminosidade às histórias fantásticas. Nem, isso
te garanto, estás por dentro de um sonho.
-
Estás a sugerir que não vens encomendado por deus...
-
A conclusão é tua.
-
...mas isso não me garante que deus existe, ou que não existe.
-
Dou-te a resposta: deus...
De repente, o Aladino evaporou-se numa
fugaz névoa. E ela ficou sem satisfazer os desejos que nem sequer conseguiu
esboçar assim lhe apareceu, em pose altiva mas magnânima, o Aladino que julgava
ser uma lenda. Ficou com as mãos cheias de nada. E nem a dúvida existencial,
que a manda pela ladeira do ateísmo, tratou de encontrar resposta.
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