Groove Armada, "At the River", in https://www.youtube.com/watch?v=m-uztVX6QFQ
A superação é proeza ou método?
Limites. Que préstimo têm? E se acaso
ultrapasso os limites, posso hastear orgulho, ou devo reconsiderar as baias do
que julgava serem os limites? Sim, posso viver imerso num logro, quando dos
limites apalavro o freio. Só que os limites podem ser esteio da alucinação – e
quem mergulha na voragem da alucinação nunca reconhece o seu estado.
As margens podem parecer claras,
delimitadas. Mas pode ser que os olhos se embaciem no restolho da manhã, ainda
estremunhados, incapazes de serem tutores fidedignos das margens que se
incendeiam. Os pés metem-se na água quando julgavam ter debaixo firme solo. Ou
o contrário: os pés ajuramentam firme solo ainda distante da linha onde a
margem beija a água do lago, mas julgam-se no firmamento onde o terreno seco se
apresta a estiolar. Ah!, quantas vezes seremos atraiçoados pelo juízo? Quantas
vezes o olhar não é confiável, dominado pelas sombras que ocultam os limites. Desconfio
que não saberei tirar as extremas às fronteiras que jorram sua torrencialidade
por onde peregrinam as ambições.
Tiro as medidas como fautor da própria
ignorância. Categórico, pulso as conclusões imaculadas, esboço as verdades
imperativas, não admito lugar às interrogações que desfazem a nitidez em denso
nevoeiro. E canto odes que glosam a heroicidade que vejo em mim reproduzida,
como se houvesse mercê de arregimentar heróis e fosse o primeiro do elenco. Se,
ao menos, as fasquias que se metem em alta temperança fossem só intermediárias
de outras mais ambiciosas, podia hipotecar proezas pretéritas, esgotadas num
vazio absoluto. Era como se apenas curasse de uma ascensão aos limites de que
somos desconhecedores totais. Ao menos, podia desembainhar os desafios
constantes, como se por eles houvesse um ar renovado a limpar a fuligem que se
acama como graça da inércia que se apodera da vontade.
Não, não somos penhores de nada a não
ser de um incessante desafio que nos faz questionar no que somos. Ou isso, ou a
existência que se hipoteca num entorpecimento letal, tão banal que desinteressa.
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