In http://cdn.controlinveste.pt/storage/DN/2014/big/ng3228665.jpg?type=big&pos=0
(Enapá 2000, "Nunca", in https://www.youtube.com/watch?v=v9JM8mORkcA)
“De
pé”, em letras magistrais, sobre fundo vermelho vivo. Só ao perto é que se
percebe que a adornar o pregão eleitoral da extrema-esquerda caviar está o anexim
“As pessoas não são dívida”. Esqueçamos
esta verdade la palissiana sem,
porém, deixar de recordar que a dívida aproveita às pessoas que beneficiam das
regalias adquiridas que os impostos não chegam para pagar. Não é a primeira vez
que a campanha eleitoral vem atrelada a insinuações de cariz sexual. Mas desta
vez o “De pé”, em letras garrafais
sob fundo vermelho vivo, chama a atenção até do mais desatento.
O que fica de pé é que não se percebe
bem, a não ser que os camaradas caviar estejam a recordar a máxima de um ícone
da democracia, Che Guevara, de que se dizia ter dito que preferia morrer de pé
a ter de viver ajoelhado (admite-se que se fosse ele, como foi o caso, a
ajoelhar os adversários, a alocução já vinha eivada da maior justiça). Talvez
seja mais típico de mentes conspurcadas ver no “De pé” uma conotação que derrama a luta partidária. O “De pé” remete para a exuberante
criatividade dos feitores do marketing eleitoral da extrema-esquerda caviar,
sempre disponíveis a fazer a diferença da monotonia dos pregões inanes dos
partidos que dominam o sistema.
Mas o pregão faz-nos perguntar: o que
fica de pé? O másculo órgão não será, pois a cabeça de lista não é lúbrica. Se
ao(à) leitor(a) ocorrer a mesma resposta luxuriante que a pergunta deixa
insinuar, outra perplexidade vem a eito. Pois se a extrema-esquerda caviar se
notabiliza pela discriminação positiva que combate a desigualdade de género, ao
ponto de ter escolhido uma liderança bicéfala que respeita a paridade entre
sexos, como podem escolher um pregão que remete para a virilidade masculina? Onde
fica a excitação feminina, já que elas (justamente) têm o mesmo direito ao
prazer carnal? O pregão está mal feito. Não são apenas eles que têm direito em inturgescer.
Devia aparecer no cartaz, com o mesmo destaque, um axioma alusivo à volúpia
feminina. Ao (à) leitor(a) cabe o exercício imaginativo de pensar no pregão.
Mais a mais, se a extrema-esquerda caviar converge com aqueles que usam de uma
metáfora grotesca para retratar os sacrifícios que sofremos por causa da troika, aludindo à sodomia de que somos
vítimas involuntárias, talvez se perceba, afinal, a mensagem subliminar do pregão.
Assim como assim, ali residem os ativistas LGBT.
(Declaração de interesses: nada contra a
fação LGBT; nem sequer alinhei pelo diapasão homofóbico dos russos, tão
incomodados por uma mulher de barbas que venceu um concurso de música
ligeira.)
Os criativos do marketing político da
extrema-esquerda caviar decaíram numa lacuna, todavia: podiam ter pedido de
empréstimo, para coroar o pregão, a música que está ali em cima. Que era mesmo
a preceito.
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