13.5.14

Sempre em pé – ou quando a lascívia invade uma campanha eleitoral

In http://cdn.controlinveste.pt/storage/DN/2014/big/ng3228665.jpg?type=big&pos=0
(Enapá 2000, "Nunca", in https://www.youtube.com/watch?v=v9JM8mORkcA)
De pé”, em letras magistrais, sobre fundo vermelho vivo. Só ao perto é que se percebe que a adornar o pregão eleitoral da extrema-esquerda caviar está o anexim “As pessoas não são dívida”. Esqueçamos esta verdade la palissiana sem, porém, deixar de recordar que a dívida aproveita às pessoas que beneficiam das regalias adquiridas que os impostos não chegam para pagar. Não é a primeira vez que a campanha eleitoral vem atrelada a insinuações de cariz sexual. Mas desta vez o “De pé”, em letras garrafais sob fundo vermelho vivo, chama a atenção até do mais desatento.
O que fica de pé é que não se percebe bem, a não ser que os camaradas caviar estejam a recordar a máxima de um ícone da democracia, Che Guevara, de que se dizia ter dito que preferia morrer de pé a ter de viver ajoelhado (admite-se que se fosse ele, como foi o caso, a ajoelhar os adversários, a alocução já vinha eivada da maior justiça). Talvez seja mais típico de mentes conspurcadas ver no “De pé” uma conotação que derrama a luta partidária. O “De pé” remete para a exuberante criatividade dos feitores do marketing eleitoral da extrema-esquerda caviar, sempre disponíveis a fazer a diferença da monotonia dos pregões inanes dos partidos que dominam o sistema.
Mas o pregão faz-nos perguntar: o que fica de pé? O másculo órgão não será, pois a cabeça de lista não é lúbrica. Se ao(à) leitor(a) ocorrer a mesma resposta luxuriante que a pergunta deixa insinuar, outra perplexidade vem a eito. Pois se a extrema-esquerda caviar se notabiliza pela discriminação positiva que combate a desigualdade de género, ao ponto de ter escolhido uma liderança bicéfala que respeita a paridade entre sexos, como podem escolher um pregão que remete para a virilidade masculina? Onde fica a excitação feminina, já que elas (justamente) têm o mesmo direito ao prazer carnal? O pregão está mal feito. Não são apenas eles que têm direito em inturgescer. Devia aparecer no cartaz, com o mesmo destaque, um axioma alusivo à volúpia feminina. Ao (à) leitor(a) cabe o exercício imaginativo de pensar no pregão. Mais a mais, se a extrema-esquerda caviar converge com aqueles que usam de uma metáfora grotesca para retratar os sacrifícios que sofremos por causa da troika, aludindo à sodomia de que somos vítimas involuntárias, talvez se perceba, afinal, a mensagem subliminar do pregão. Assim como assim, ali residem os ativistas LGBT.
(Declaração de interesses: nada contra a fação LGBT; nem sequer alinhei pelo diapasão homofóbico dos russos, tão incomodados por uma mulher de barbas que venceu um concurso de música ligeira.) 
Os criativos do marketing político da extrema-esquerda caviar decaíram numa lacuna, todavia: podiam ter pedido de empréstimo, para coroar o pregão, a música que está ali em cima. Que era mesmo a preceito.

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