8.5.14

A “saída limpa” e outras minudências higiénicas

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Andámos enamorados da troika (versão dos que desconfiam da reincidente prodigalidade dos governos da pátria) – ou andámos aferrolhados a ela (versão dos críticos da intervenção externa) – durante três anos. Terminado o enlevo, era preciso saber como sepultá-lo. Ou ficamos por nossa conta, sem mais ajudas de consortes de ocasião, ou terminamos o enlevo mas pedimos tutela, à cautela, não vamos cair nos arrufos de quem é nosso credor. À primeira saída do namoro chamou-se “saída limpa”. Presume-se que a segunda hipótese era a “saída suja”.
Como somos asseadinhos, apesar dos do centro e norte da Europa nos chamarem “pigs”, quisemos fazer gala dos pergaminhos de asseio. Era impensável terminar o namoro com os credores e meter os pés a um caminho sujo. Não era digno da linhagem. E apesar do desporto que se entronizou como “desporto-rei” ser uma escola de comportamentos para a imensa maioria que assim o aceita, vulgarizando métodos pouco claros para recolher louros, as autoridades quiseram dar um exemplo de lisura, afastaram a imundície do panorama. Pois se “pigs” não somos, não gostamos de patinhar na lama nem aceitamos as latrinas onde os outros jogam baixo.
No tocar a finados do namoro com os credores, era preciso saber como fazer as exéquias do namoro. Daqui sobressaem duas formas de narrar o acontecido: ou foram os credores que mandaram dizer que só aceitavam a saída limpa, pois não pactuam com falta de higiene que podia comprometer a transparência que deve reger estes negócios de Estados e organizações internacionais; ou foram as autoridades pátrias que, porventura motivadas pelas eleições em dois anos seguidos, mandaram embora o consorte só depois de todos terem tomado um banho retemperador. Não há ressentimentos, o banho foi retemperador. De hoje para amanhã, se voltarmos a precisar da rede de segurança de quem andou connosco ao colo durante três anos, ficam as memórias do banho retemperador que nos deixou amigos para sempre.
É preferível a higiene à dúvida da sujidade, que atira nódoas para o horizonte. Fazendo jus ao saber popular (contradictio in terminis, porém), pelo menos o saber popular de que somos cativos (o nativo), somos mais dados à higiene do que os povos que foram nossos credores. A saída limpa era o fado.

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