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Andámos enamorados da troika (versão dos que desconfiam da reincidente
prodigalidade dos governos da pátria) – ou andámos aferrolhados a ela (versão
dos críticos da intervenção externa) – durante três anos. Terminado o enlevo,
era preciso saber como sepultá-lo. Ou ficamos por nossa conta, sem mais ajudas
de consortes de ocasião, ou terminamos o enlevo mas pedimos tutela, à cautela,
não vamos cair nos arrufos de quem é nosso credor. À primeira saída do namoro chamou-se
“saída limpa”. Presume-se que a segunda hipótese era a “saída suja”.
Como somos asseadinhos, apesar dos do
centro e norte da Europa nos chamarem “pigs”, quisemos fazer gala dos
pergaminhos de asseio. Era impensável terminar o namoro com os credores e meter
os pés a um caminho sujo. Não era digno da linhagem. E apesar do desporto que
se entronizou como “desporto-rei” ser uma escola de comportamentos para a
imensa maioria que assim o aceita, vulgarizando métodos pouco claros para recolher
louros, as autoridades quiseram dar um exemplo de lisura, afastaram a imundície
do panorama. Pois se “pigs” não somos, não gostamos de patinhar na lama nem
aceitamos as latrinas onde os outros jogam baixo.
No tocar a finados do namoro com os credores,
era preciso saber como fazer as exéquias do namoro. Daqui sobressaem duas formas
de narrar o acontecido: ou foram os credores que mandaram dizer que só
aceitavam a saída limpa, pois não pactuam com falta de higiene que podia
comprometer a transparência que deve reger estes negócios de Estados e
organizações internacionais; ou foram as autoridades pátrias que, porventura
motivadas pelas eleições em dois anos seguidos, mandaram embora o consorte só depois
de todos terem tomado um banho retemperador. Não há ressentimentos, o banho foi
retemperador. De hoje para amanhã, se voltarmos a precisar da rede de segurança
de quem andou connosco ao colo durante três anos, ficam as memórias do banho
retemperador que nos deixou amigos para sempre.
É preferível a higiene à dúvida da
sujidade, que atira nódoas para o horizonte. Fazendo jus ao saber popular (contradictio in terminis, porém), pelo
menos o saber popular de que somos cativos (o nativo), somos mais dados à
higiene do que os povos que foram nossos credores. A saída limpa era o fado.
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