1.5.14

O patrão recalcitrante

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(Porque um de maio é o dia do trabalhador)
O velho acordou maldisposto. Como sempre. Foi o primeiro a chegar à empresa. Como sempre – não confia em ninguém para abrir as portas da empresa, nem para as fechar ao fim do dia; e nunca houve dia que não fosse ele a fechar as contas da empresa. Nunca fez férias, nem nos poucos dias em que a fábrica fica encerrada, depois de o sindicato (o maldito sindicato) o ter obrigado, sob pena de ser o tribunal a obrigá-lo.
Os operários vão chegando. Ele vê-os chegar com a intenção de trabalharem o menos que puderem. “Está no sangue de quem trabalha”, dispara para a neta que tem no ADN a mesma visão mesquinha do mundo. A meio do dia, recebe no escritório o chefe de turno. Devia ser um homem de confiança, mas vê no chefe de turno o primeiro dos trabalhadores que se arregimentam para boicotar a empresa. O chefe de turno comunica que uma operária tem gripe. Está com febre e não consegue trabalhar. O velho desconfia. Manda vir o médico para atestar a condição de saúde da operária. Só com o atestado médico é que a liberta para o descanso. Contrariado, pois acredita que os trabalhadores são useiros e vezeiros nos pretextos para trabalharem o menos que puderem.
Para depois de almoço está marcada uma reunião com a comissão de trabalhadores (outra excrescência marxista com que foi obrigado a conviver). Já está à espera da ladainha do costume: os sindicalistas vão querer mais salários, menos horas de trabalho e outras regalias acessórias. Vão invocar os lucros da empresa, que cresceram de um ano para o outro, e que parte deve ser socializada. O velho dono da empresa pragueja: “era o que mais faltava. Eu sou dono da empresa; os lucros são meus e eu é que decido o que fazer com eles. E nem me parece que os trabalhadores, com a sua proverbial falta de dedicação ao trabalho, mereçam um quinhão.” Os sindicalistas exasperam-se com a tacanhez do velho. Começam a exagerar da linguagem – é típico da função e faz parte da doutrinação que recebem durante o tirocínio. Ameaçam com greve. O velho ameaça com despedimentos.
A tensão cresce. O velho ameaça agora com o seu cansaço. Anuncia uma novidade que o não é para os do sindicato: “eu já enriqueci o que tinha a enriquecer.” Ato contínuo, engatilhou um raciocínio que deixou perplexos os do sindicato: “os meus filhos não ligam à empresa. Um dia destes, fecho-a. Depois os senhores vão com os vossos prantos para as câmaras da televisão enquanto eu gozo a merecida reforma.” Os do sindicato renovam os votos de greve e atiram uma data para cima da mesa. O velho fechou a capa onde anotava a marcha da reunião e disse, com voz grave: “façam greve nesse dia. No dia seguinte, encontram as portas da empresa fechadas. Para sempre.
O velho empresário, tantas as curtas vistas, nunca entendeu que é gente com a sua têmpera que dá vida aos sindicatos.

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