30.5.14

Provavelmente, num coffee shop

In http://www.arizonacoffee.com/wp-content/uploads/2006/12/TheBar.jpg
A cidade é tão grande e, todavia, parece um lugarejo onde se sente assaltado pela claustrofobia. É grande a cidade, com tantos recantos decerto desconhecidos, mas ele desagua sempre nos mesmos lugares. Talvez seja garantia contra a novidade, com o temor que os olhos se cegassem com o efeito telúrico da novidade. A certa altura, a idade descompõe os sentidos e a novidade é agressora. Mas o tempo começava sempre da mesma maneira. As alvoradas temporãs faziam sobressair a luz baça através do orvalho da madrugada, quando aproveitava a letargia ainda a desfazer-se em quase toda a gente que se convencia para mais uma jornada. As ruas são mais belas quando estão quase sozinhas, despejadas de outra almas. Quem disse que a solidão é opressora?
O pior era quando assomava a pergunta habitual: por onde ir, até onde ir? Quando a ousadia tinha emancipação, metia os pés por caminhos raros. Depressa aportava a ruas conhecidas, a lugares que eram visitação frequente, entrando nas mesmas livrarias, nas mesmas lojas de roupa, nos mesmos cafés, olhando de soslaio para os mesmo monumentos. Não era a rotineira peregrinação que o apoquentava; era saber do lugar-comum que certificava que os hábitos e sua repetição são doença. Queria arremeter contra a ditadura dos juízos, dos que se ajuramentam sábios que se julgam enciclopédicas fontes de saber do saber dos outros. Queria romper com o marasmo das autoajudas, dos compêndios milagrosos que esboçam as receitas para todas as maleitas, contra o saber catedrático das regras muito matemáticas sobre a mais não matemática matéria que é o comportamento dos homens.
As manhãs monótonas não eram o desenho de estilhaços. Eram o princípio do pensamento que flanava com o corpo que mecanicamente se arrastava pelas ruas da cidade. Delimitando as fronteiras do território habitável, como se as ruas e os recantos que eram tão estranhos como qualquer desconhecida cidade fossem a metáfora do tóxico. Não sentia saudades do desconhecido. Não reprimia sequer a pulsão da aventura, que o poderia trazer às fímbrias das ruas singulares que dantes nunca foram visitadas. Era como tinha de ser. O desassossego com a antinomia do que era, não tinha acolhimento.
À noite, repousava no sono com desembaraço. Já não era, como dantes, amotinado dentro das fronteiras de si mesmo. Que maior prova de vida podia ter entre as mãos?

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