Lemonheads,
“Mrs. Robinson”, in https://www.youtube.com/watch?v=zvMFm5nKeUc
A Europa mandona repensou
o boicote às frutas feias. Faz sentido. A Europa que cinzela os cânones
respeitáveis manda dizer que não se aceitam discriminações. Descobriu,
tardiamente, que não deve discriminar em função da estética (ou da sua
ausência).
A Europa não deixava que
as frutas feias fossem mercadoria no bazar dos frutos. Chamava “normalização”
ao processo que se interessava muito pelo aspeto das frutas e pouco pelo seu
conteúdo. Parecia que se confirmava que os olhos comem mais que as papilas
gustativas. As frutas que não quadravam pelo estalão das frutas bonitas, assim medidas
pelos burocratas europeus que julgam tudo ser padronizado, estavam destinadas a
subprodutos. Iam para compotas, sumos, miscelâneas congeladas, para a indústria
da doçaria, para os asilos dos pobres e necessitados. Os admiradores de
compotas, sumos, miscelâneas congeladas e doçaria variada talvez discordassem
que as frutas feias fossem subprodutos, se elas eram imprescindível matéria-prima
para os produtos da sua eleição. Para os puristas da fruta, um fruto
desconsiderado por ser feio é subproduto. Isto é uma discriminação. Pois um
purista dos frutos teria de perguntar se o sabor de um fruto feio não é melhor
que um fruto que entrou no panteão da especialidade.
Agora já não há frutos
feios. Isto é: há frutos que continuam a ser “feios” para os padrões dos
burocratas. Mas não se veda a entrada dessas frutas nas lojas da especialidade.
Porventura foi um rebate de consciência dos fazedores de leis europeias.
Ajudados pelos gurus que revisitam a textura dos cânones, do que é aceitável e
do que perde respeitabilidade. Promoveu-se a respeitabilidade das frutas feias.
Ou, talvez, os gurus dos padrões aceitáveis ensinaram aos burocratas
empedernidos que não há frutas feias e que os olhos não podem comer mais que o
estômago. O simples sortilégio de ser fruto impede, por automática dedução,
associar a feiura.
Agora, todas as frutas
são belas. Umas mais belas que outras, como acontece com tudo que é natureza e se
expõe à catilinária da estética. No resto, manda a lógica da não discriminação.
Até nas frutas. Não é justo que uma fruta seja apartada do cabaz onde eram
alojadas as frutas só bonitas. Se a estética é permeável à intervenção divina
(como dizem alguns, ao perorarem sobre a quem fica reservado um lugar derradeiro
na distribuição – divina, dizem – da beleza), e se a entidade divina não é
compatível com arbitrariedades (sob pena de perder o lado deificado), nem os
frutos, nem o que quer que seja, padece de feiura.
Faça-se lei disto.
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