Twin
Shadow, “Golden Light”, in https://www.youtube.com/watch?v=2wGwNM-vl3E
Não somos como Astérix,
que tem medo que o céu lhe caia em cima da cabeça. E se há noite em que o céu
está à mão de semear, como se por milagre tivesse descido quase ao nível de
onde estamos, não nos encarceramos no pânico fácil.
Ficamos extasiados.
Porque, de resto, os elementos conspiraram (quando as conspirações são de boa têmpera)
num quadro noturno que levitava diante dos olhos. As nuvens voavam, céleres e
baixas. Apetecia dizer que se nos puséssemos em bicos dos pés, os dedos metiam-se
na suavidade das nuvens díspares que vinham ao colo do vento que vinha de sul.
Ao mesmo tempo, a lua cheia emprestava claridade. Às vezes, a lua ficava
embaciada por uma nuvem mais compacta. Sendo ainda possível espreitar uma
centelha que dissolvia a penumbra que se devia à nuvem intrusa.
Em redor, no resto do céu
ora recalcitrante à mercê de nuvens episódicas e mais finas, ora emancipado na
sua imensidão, projetava-se a luminosidade que procedia da lua gorda. As nuvens
não tão plúmbeas serviam para coar o luar projetado, dando-se um efeito de
transfiguração das cores. Notava-se um arroxeado tímido a tingir o céu que era
possível avistar, a nossa possível aurora boreal (na impossibilidade das
árticas paisagens serem as do momento). A tela fazia supor a quimera
aconchegada sobre os rostos erguidos ao céu, só ao alcance de quem tomara do
seu tempo para apreciar o fausto de um céu singular.
Entre as nuvens esparsas,
nos despejados pedaços do céu, abraçavam-se as palavras que levitam imagens melífluas
que acompanham o tempo. Não eram as nuvens o alinhavar de temores, apesar de
elas voarem depressa e mudarem de forma consoante a vontade momentânea dos
ventos dominantes. Não eram nuvens que metessem medo. Nem por ser tão baixo o
céu que, na versão dos gauleses de Astérix, seria sinal de um possível
apocalipse. Não. Este era um céu em forma de sortilégio.
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