19.5.15

Sobre o custo marginal da controvérsia

Ride, “Leave Them All Behind” (live on KCRW), in https://www.youtube.com/watch?v=B2B1WrFuAHg
A coluna vertebral não tem preço. E os espelhos diante dos olhos são um tribunal implacável no qual a consciência deve depor. Não adianta mascarar as coisas de uma índole diferente da que têm. A gente comum manda dizer que se muito nos baixamos ficamos com partes à mostra que não devem ser mostradas. Por isso não pode a coluna vertebral vacilar. Se é insultada, ou se lhe põem um rolo compressor em tentativa de esmagamento, ou se reage ou é a implacável condenação que sobressalta as entranhas. (A menos que as entranhas tenham sido industriadas, simulando o bem ausente e atirando areia para o mal que se pretende omisso.)
Entra em cena a controvérsia. Podemos ladeá-la, com a diplomacia dos melhores diplomatas, invocando o imperativo da serenidade interior. Quando ela vem de frente contra nós e somos por ela sitiados, podemos decair, desprezando o mau tom de quem se aninha perante a adversidade. Ou podemos convocar os pergaminhos da coluna vertebral que não inclina, metendo a cara de frente à controvérsia. (Ou podemos ser fautores da controvérsia, em diligente ato de interior belicismo, quando queremos comprar uma controvérsia só para desobstruir a porventura cansativa modorra dos tempos.) Não se espere bonança quando assim acontece. É como se as nuvens carregadas se deitassem no horizonte, o vento uivasse furiosamente e trovões ocasionais troassem durante a noite, tornando o sono contumaz. Um desassossego que não se deita com a noite.
Temos de estar preparados para uma avaliação importante: para onde deve pender o pensamento? Para um budismo que ignora provocações exteriores, por considerar que não há dano maior à coluna vertebral do que deitarmo-nos no desassossego da controvérsia? Ou julgar os danos (temporários ou irreparáveis) à coluna vertebral se a controvérsia for iludida, fazendo de conta que não veio desaguar no nosso regaço?
Os economistas têm alguma lábia. É a lógica do custo marginal. Um cotejo de danos e ganhos, como se fossem sopesados numa balança calibrada para tais propósitos. Não há resposta única. Mandam as circunstâncias, os momentos e as têmperas diferentes que mestiçam o ator (voluntário ou não) da controvérsia.

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