Caribou,
“Can’t Do Without You”, in https://www.youtube.com/watch?v=sdwXDAitXGs
Na submersão da alvorada,
mergulho no teu rosto. O teu rosto: um espelho iridescente, o manancial de
todas as cores. Cresço. Coalho as impurezas que não importam. O tempo inteiro
tem de ser dedicado à sagração das relevâncias. Daquilo que nos importa. Das
cores todas do arco-íris que irradiam do teu sorriso que é porto franco.
Apetece colher essas cores, deitá-las no meu colo. Para aprender a sorrir com a
força de uma tempestade admirável. Para crescer. Pois no teu rosto revejo o
meu, à imagem humilde de quem se serve das lições que vêm por teu intermédio.
Guardo a sete chaves os segredos nossos. São o nosso património imaterial, mais
valioso (por ser nosso) que o património com a chancela da humanidade. Estamos
nas tintas para a humanidade. Porque somos seus lídimos exemplares. Já que a
restante humanidade habita um microcosmos que é longe do amuralhado castelo de
onde congeminamos as coisas singelas na sua beleza singular. Nesse castelo, há
um espelho para além do espelho-teu-rosto. Recebe o amplexo de luminosidade que
espiga em nós. Somos tutores do tempo todo. Donos do ouro que há no mundo. Curadores
das manhãs retiradas ao sobressalto dos sonhos soturnos. Procuramos os corpos
como refúgio recíproco. Bebemos o suor que percorre a pele. Os corpos só
repousam no cais seguro quando se aplaca a febre. Caímos nos braços um do
outro. Já não há sonhos que possam ser inquietação. O sonho maior veio ver a
luz macia que desfila diante dos nossos olhos. Agarramos essa luz entre os
dedos. Sabemos que nem o sol maior diligencia luminosidade tão feérica.
Sabemos. Porque tamanha luz irradia das profundezas que há em nós. E nós somos
a maior construção que podíamos ambicionar. Aprendi isto contigo. Quando dei
conta que eras espelho infinito, um espelho prodigioso capaz de terçar os
desassossegos. Hoje, sou maior à tua custa. Sou, arrisco a dizê-lo, inteiro.
Por fim, inteiro. Bebendo da candeia que levas à tua frente.
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