The Dream Syndicate, “Medicine
Show” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=k6_MLzj_l7A
I
Manda os pés para o lugar onde as águas do mar bordejam
o areal. Ou manda-os para um miradouro de onde consigas ver uma paisagem sem
fim. Manda os pés para onde te convocar um repasto de modernização, para onde
haja subsídios que sustentem a mudança. Vais ver que os ares diferentes, em cadenciado
movimento de oxigenação do pensamento, são medicinais. Dir-se-ia providenciais,
para não te achares metido dentro da pequenez de ti e seres o primeiro a ditar
o cansaço da tua pessoa. (É que, a seguir a ti, outros poderão vir a decretar o
mesmo.)
II
Não incenses os livros que deixaram marca no teu devir,
antes de o conheceres. Pois um livro não se destrói – não cometas esse crime capital.
Procura novas literaturas. Novos autores. Procura novas formas de escrita. Novos
enredos, onde possivelmente a criatividade te deixe sem gota de sangue perante
a imprevista trama congeminada. Abre, de par em par, as janelas às narrativas
que os novos tempos inauguraram. E vai com essas neófitas narrativas.
III
Convence-te que regressar a lugares já visitados é uma
usura do tempo. Evita as revisitações, sob pena de te sentires sitiado por uma
nostalgia que sela a vacuidade do tempo pretérito (não do tempo em si; da
insistência em evocá-lo). Pega num mapa e deixa o dedo indicador percorrê-lo,
detendo-se nos lugares que nunca tiveram os teus olhos como testemunhas. Reinventa-te
nesses novos lugares demandados. Cresce de mão dada com os rudimentos que eles
têm para te legar. Por mais velho que te sintas, não há tempo a perder no
processo de crescimento. Na aprendizagem imorredoira.
IV
Embolsa as palavras gastas. A descoragem timorata. As indecisões
que coíbem os movimentos. Embolsa, também, preconceitos – os que admites e
aqueles de que vieste em caçada depois de demorada exegese interior. Embolsa o
feitio que tens como iracundo. Mete os olhos no tapete que se ajoelha sob os
teus pés, menoscaba o tempo que não rima com o conhecimento atual. Recusa as
algemas que projetas vindas do exterior, mas que são o produto da incapacidade
para lidares com aquela parte de ti que julgas ser insuportável.
V
Assina um contrato. Contigo mesmo: atualiza-te. Num arrebatamento
constante, como se uma lareira não perdesse a chama vivaz mesmo não sendo nutrida
há tempo longo a esta parte.
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