Nine Inch Nails, “The Day
the World Went Away”, in https://www.youtube.com/watch?v=y7fsHtkNU7w
As coisas têm o seu entendimento. As coisas simples,
mundanas, acessíveis a quem conseguir articular raciocínio. E há as coisas
complexas, que exigem perícia de entendimento. Na vulgata da opinião
democratizada, estamos no modismo em que todo o cidadão tem o direito de opinião
sobre o assunto, qualquer que seja ele, oferecido à pública discussão.
Não há grande mal que assim seja. Antes cidadãos
empenhados na pública discussão do que um grupo anémico, sem ideias formadas
sobre grande parte dos temas atirados para a praça pública. O mal está algures:
na propensão para alguma gente ter de si uma imagem maior do que a devolvida
pelo espelho, debitando assertivas ideias sobre todo o assunto que se mexa, até
dos que convocam conhecimentos periciais dada a sua complexidade. Essas pessoas
alvitram, prolificamente. Na maior parte das vezes, com uma superficialidade confrangedora
para elas mesmas. Sentam-se numa suposta cátedra (de que apenas cada um destes
hiperbólicos catedráticos tem conhecimento) e exercitam o direito a opinar.
Na maior parte das vezes, quando o assunto opinado verte
a complexidade que não aconselha tratamento pela rama, têm opinião célere. Apoiam-se
numa teoria do entendimento mínimo das
coisas. Sobre elas julgam praticar uma decantação milagrosa que as extirpa
da sua complexidade genética, assinando sentenças categóricas. Em sendo tais
coisas objeto de complexidade, não se julga procedimento capaz sobre elas ter
um entendimento superficial. Pois por baixo da fina demão decapada pelos teóricos
das inanidades, está a parte mais substancial, o lastro das coisas na sua
irremediável complexidade. Os ideólogos da singeleza das coisas complexas
tropeçam numa contradição de termos. Mas que ninguém lhes aponte o dedo, que,
detentores de uma sapiência suposta e acima de suspeitas, tratam de cavar mais
fundo a cova onde já estavam deitados e asneiam argumentos.
Houvesse quem os chamasse à parte e os convencesse que a
prolífica autoria de opinião sobre todo o assunto que se mexa, e em particular
dos que têm pergaminhos complexos, não os deixa vistosos no retrato. E houvesse
quem os convencesse que, diante de complexas coisas, das duas, uma: ou
mergulham em leituras para terem algum conhecimento de causa sobre a coisa e só
depois arriscam opinião debruada com a advertência da prudência, que não
cauciona conclusões contundentes e definitivas; ou praticam o silêncio metódico,
pois a coisa, de tão complexa, exige opinião informada. Assim manda a teoria do entendimento profundo das coisas.
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