The Breeders, “Gigantic” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=Zuls6cDzW_U
(Como se te houvessem dado palco e megafone e perante o desafio tivesses que proclamar umas palavras eloquentes)
Não convoco as altercações do tempo pretérito, nem os degraus que esperam pelo que lhe é vindouro. Não excomungo nenhum dos dois. Fiquei exausto das redenções esboçadas – cansado de dar conta que eram exercícios condenados ao malogro. Também não convoco esperanças. Prefiro a degustação assombrosa do fértil terreno que tenho sob os pés. Levando as interrogações ao acaso pela mão, o tangível pensamento que se terça contra a inércia dos que amanhecem poltrões e assim ficam pelo que sobra do dia. O fumo linear que sai das chaminés não é chamamento. As coisas lineares, tenho-as como desaprovações. Atraem-me as complexidades que se jogam no palco dos desafios, as rimas desestruturadas, os enigmas com força de enigma, os sucessivos novelos fatiados no dorso das dúvidas, as perguntas que medram nas imediações de perguntas precedentes, o ronronar dos gatos, as páginas por abrir de um livro em espera, os néctares convocados na amesendação sublime, os prazeres que farram na companhia certa. Gosto de me saber hedonista. Não refém de credos. E estilhaçando as certezas todas contra os fragmentos de espelhos baços que, depois de estilhaçados, recuperam o seu resplendor. Não me importam as ruínas que se insinuam em varandins escondidos no sortilégio da noite. Desavisem-se os beócios que se julgam vencedores de pleitos avulsos: maior é a proeza dos que decretam derrotados, mesmo que decaiam na possível humilhação do contragosto: a eles pertence a humildade dos vencidos, que se sobrepõe à prosápia dos triunfantes. Não me admiram as farsas elencadas nas estantes apinhadas. Não recuso as miríades de paisagens que se antepõem em telas mentais. Não rejeito os sins que têm sua demanda na constelação da subjetiva linhagem. Se preciso for, danço com a força de um desengonçado. Se preciso for, alinho em comícios que são minha antítese. Se for preciso, deito-me à experiência do neófito, só para em meus braços acolher uma ilação sobre as impressões do desconhecido. Quando preciso, adormeço no lânguido pesar das almas serenadas. Sabendo que amanhã exclamo, com a força da alvorada, “bom dia!” a quem o merece escutar em primeira mão. Sabendo que um dia assim começado é o feito maior que posso congraçar. O resto, não importa. Porque o resto assim desimportante não rivaliza com o que conta para os inventários que contam.
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