Kidd Funkadelic, “Maggot Brain” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=3aAzdHnYfuk
Os arcaboiços não se prestam à discussão. Não são mortiços enfeites que autorizam a usura dos outros. A estética é contrafação. Na volta da maré, sobrepõe-se a força do arcaboiço, que vence no braço de ferro. Um argumento de autoridade.
Porque tenho uma pança maior: demande-se o arbitrário respeito, ou o arcaboiço como arma de arremesso é possível e os atingidos não recuperam em bom estado. O arcaboiço devolve a purulenta impaciência e a força substitui-se como argumento de autoridade. A minha pança maior exige anuência dos demais, dos que têm pança menor e dos sem-pança, assim diminuídos na sua condição menor. Esqueçam-se dos burgueses trejeitos, transfigurados de juízos estéticos: a pança maior não é inestética. Porque é minha e assim o decreto.
Porque tenho uma pança maior, assusto os outros. Suponho que se amedrontam com a possibilidade de atirar as adiposidades excessivas contra eles, como força bruta, irrebatível. E ai se eles segredarem gracejos sobre a minha condição, que levam com a pança maior e com um punho fechado no sobrolho. Não interessa a lição sobre a paz e como a paz não tolera manifestações de violência. A pança maior atira-se contra as aleivosias dos oponentes e isto não é violência: é uma oportunidade que não se pode gastar no vazio.
Há quem diga que me respeitam não pelos argumentos de autoridade mas pelo temor de serem vítimas da pança maior. Concordo. Não me importam os argumentos de autoridade, a não ser que sejam fruídos após o esbofetear com a pança maior; é quando a pança maior passa a argumento de autoridade. Uma vingança servida aos apoderados da estética estéril. Cada um serve-se das armas que estão à mão. Se vítima me encontro da perseguição estética, reajo com a pança maior, virando o jogo do avesso: é a pança que me trai no conciliábulo da estética (assim vulgarizada), é a pança que sirvo de vingança para os que descaem no ultraje.
Porque a minha pança é maior, não fico condenado à decadência. Nem sou refém de dietas, nem cobaia da ostensiva privação de prazeres. Julgo que é mais por este motivo que me temem. Não tenho nada a perder. Nem o meu doentio colesterol, ou os riscos que pesam sobre a minha vida (como presságio de morte), me intimidam. Sei que todos vamos para a morte. Uns, com a vantagem da pança maior, autêntica arma de destruição maciça da inveja dos dietéticos, e de fruição de deleites. Mas vou abraçado aos prazeres que me apetece, não me sendo negado este hedonismo vivaz em sua duração.
Pobres dos outros, que têm medo da minha pança maior e inveja de não poderem ir para a sepultura de barriga cheia dos prazeres que se proíbem.
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