Sufjan Stevens, “Visions of Gideon”, in https://www.youtube.com/watch?v=UiICPJXgWFU
Não é homonímia. Um bom nome não é um nome bom. Anda toda a gente sobressaltada por desconfiar de um assalto algures ao seu bom nome. Socorrem-se de fátuos adágios populares para defenderem a honra de um nome ultrajado: “quem não se sente, não é filho de boa gente”, protestando muita indignação. Não podem contrariar a maré engrossada que depende da vontade dos outros – dos outros que, justamente, dirigem insultos que enodoam um bom nome. Julgo poder dizer-se que, na maior parte dos casos, os atentados à honra de um nome não chegam a ser do domínio público; ficam escondidos em elucubrações que não se traduzem em palavras que cheguem ao conhecimento do ofendido.
(Quem toma conhecimento que, no meio do trânsito caótico da cidade em hora de ponta, um anónimo condutor de um automóvel lhe dirige fecundo impropério?)
Quem pode garantir ter um bom nome, impoluto aos olhos dos demais? Ninguém. E eu digo: ainda bem. Mal seria se, em relação aos nomes, toda a gente concordasse. Vale para os que se agigantam perante a ilusão de seu bom nome, como é válido para os nomes ostensivamente depreciados pela multidão. Folgue-se saber que há gente com punhos rendilhados que diligencia o seu melhor para exteriorizar (e fazer respeitar como tal) um bom nome, mas que não é credora do louvor aos olhos de outra gente. E folgue-se saber que nem os (assim entendidos) defenestrados têm seu mau nome selado pela opinião de toda a gente.
O olhar está de viés, neste assunto do bom nome. A ordem das palavras está trocada. Em vez de as pessoas andarem em pleitos sucessivos quando enquistam ultrajes ao seu bom nome, continuando uma demanda inútil pelo reconhecimento de seu bom nome, deviam baixar a guarda. E contentar-se-iam em saber que é um nome bom o que trazem a tiracolo no úbere da identidade. Mesmo isso, não garante consensual observação. Quem ambiciona o bom nome como meta de reconhecimento público, entroniza-se átomo centrípeto, como se tudo fosse contingente a si. Por maior que seja a safra que consola pergaminhos, não conseguem alcançar tal reconhecimento – ou por indiferença de muitos, ou por recusa de tantos outros. Os que se contentam com um nome bom são mais modestos e ensimesmam a fortuna que consideram o lastro de um nome bom. É para consumo interno, como se as portas da consciência estivessem constantemente abertas e o pecúlio do nome bom fosse a caução da sua integridade.
Os que exibem, com visível ostentação, um bom nome, são aves vaidosas que se esbatem na efemeridade da sua presença na paisagem dos tempos. Os que se contentam com um nome bom são seus próprios juízes, recusando entregar a empreitada nas mãos de quem, por ser alguém na sua exterioridade, é tripulante da indiferença.
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