Mac DeMarco, “Honey Moon”, in https://www.youtube.com/watch?v=5AQ_GBJkcG8
(Qualquer semelhança com uma polémica contemporânea envolvendo sexo não consentido entre uma senhora e uma estrela mundial do futebol é, apenas, mera coincidência)
O nómada situacionista cansou-se da situação. Ao seu conhecimento chegaram ecos de lhe serem imputados comportamentos que ele reputa execráveis (no domínio da sua inextricável consciência). Como está na moda, parte-se da presunção de culpa para inverter o ónus da prova. Ao nómada situacionista chegaram microfones em barda, plumitivos querendo justificações. Já não o safou o estatuto de nómada situacionista, esteio do regime e da normalidade instalada. Até os poderosos – normalmente fazendo de adereço do nómada situacionista, pois estar ao seu lado granjeia popularidade – esqueceram-se dele. É o preço da fama. Quando se está em alta, até os poderosos, os mandantes da gleba, usam fita-cola para serem andarilhos do famoso. Quando se cai na desgraça, é o esquecimento que grassa. O resto do povo está atónito. Não esperava tamanho ultraje (aos bons costumes; o povo é exímio cobrador de fraque dos bons costumes) do nómada situacionista. Não admira que o nómada situacionista queira ir embora: recusa o estatuto (de nómada) e o rótulo (situacionista). Se os seus o apostrofam, não são merecedores da sua continuidade na terra que dele fez nómada. Não têm préstimo as tentativas, alguma elaboradas, de fazer valer as regras que dão corpo ao regime: o acusado da situação ultrajante para os bons costumes deve ser processado e devidamente julgado, com direito a contraditório. São apelos em vão. Outros famosos, de pedra em riste, e o imenso exército recrutado no povaréu, já proferiram sentença extrajudicial: o libelo acusatório saldou-se por condenação sumária e implacável. O nómada situacionista, por vontade dos juízes sem toga, está condenado ao degredo. O rótulo (de situacionista) foi deposto liminarmente. De que lhe adianta continuar a usufruir da condição (de nómada)? O nómada situacionista está angustiado, revoltado, triste. Dando a volta a vários calendários, o porvir cuidou de provar (em litígio decidido pelas vias legítimas) que a acusação estava coberta por um manto de falsidade. O mal estava feito e não tem reparação. Nestes tempos de escrutínio cerrado das vidas alheias, as sentenças de juízes sem toga são mais contundentes do que as sentenças dos juízes legítimos. Males há que vêm por bem: o nómada passou a sedentário. Agora é um rebelde.
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