11.10.18

Os sábios (short stories #45)


Bauhaus, “She’s in Parties”, in https://www.youtube.com/watch?v=QXh30qF7D38
Os sábios não são apenas os velhos, emoldurados num cadeirão de onde ostentam a imensa autoridade intelectual e peroram com o jeito dos que se afastam do conhecimento acessível com a caução da erudição jactante. Há sábios de todas as idades. Sábios com diferentes pergaminhos. Sábios não são apenas os detentores de cátedras (de todas as espécies); são também os apóstolos do saber variado que comentam prolixamente no espaço público, os ascetas que se interiorizam como detentores de saber à prova do saber dos outros, dos pecaminosos (por atentado à humildade do conhecimento) peritos que desfilam imperativos categóricos à prova de contraditório, os purulentos eremitas que arrematam a razão a seu favor. Há os sábios entronizados pela admiração dos outros e que aceitam a coroa e a demais auréola. E há os sábios autoproclamados, feitores de um conhecimento do lugar-comum, tributários de fontes de saber não escrutináveis, soberanos de um exíguo lugar mental que protestam ser do tamanho do universo – sábios de vulgaridades sem valor para a sabedoria. Os sábios que se cobrem com o estatuto da respeitabilidade intelectual estão no cocuruto da sabedoria. Foi longo o caminho (mas nem sempre árduo) até lhes ser reconhecido senatorial estatuto. São detentores da sabedoria por direito adquirido. Já não precisam fazer prova da sabedoria. Decaem na vulgata da sabedoria enquistada no estatuto. Deixa de ser sabedoria; é apenas estatuto. Das demais categorias de sábios não merece a pena mais palavras dedicatórias. Os sábios sabem tudo. E não sabem grande coisa – pois a quem tudo cobiça saber, é embebida a garantia do pouco que sabe. Os sábios só têm respostas. Os demais procuram as interrogações. Maior a sapiência dos humildes, dos que procuram saber e o saber lhes abre as portas para múltiplas fontes de saber. Invocar o estatuto de sábio é a confissão de que não se é sábio. A humilde condição da humanidade devia ser suficiente para banir a condição de sábio das possíveis condições a que alguém pode ambicionar.

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