7.2.25

Ano zero e mais

The White Stripes, “Dead Leaves and the Dirty Ground”, in https://www.youtube.com/watch?v=7OyytKqYjkE

Motivámos o dia na contrafação do tempo. Os nomes não são a estranheza embebida no índice dos anónimos. A indiferença deixou de ser a marca de água que trespassa os motivos vigentes. As pessoas já não dizem oxalá à desesperança. Os algarismos moveram-se no fino fio que os separa do precipício. Agora estão a salvo. São zero e mais.

Se contassem os arrependimentos, passávamos a tempo em preces que devolviam a paz estilhaçada – disseste. Não é dessa fibra que somos. Somos os espelhos dos contratempos de que fomos tutores e não fugimos dos mapas prescritos. Não nos escondemos das alfaias que povoaram sementeiras sem colheita. Se o tempo não souber ser a nossa absolvição, nós absolvemos o tempo. Ainda a tempo de voltar a um tempo madrigal.

A luz desimpedida deixa o fundo do poço à mostra. Dizes: matámos a curiosidade. (Promovemos uma desinteressante e especulativa digressão sobre a etimologia da expressão “matámos o tempo” – afinal, temos de fazer tempo com o tempo que des-sobra). Usamos uma serra mal afiada para cobrar as arestas que tinham a mania de ativar as lágrimas. Regressámos às preces entontecidas, pois não somos avençados de catecismos e de bíblias entendemos nada. Mas não capitulávamos. Perguntavas: este é o ano zero? E eu dizia, para desencolerizar as cicatrizes herdadas, que este é ao ano zero mais qualquer coisa. E nós somos a parte maior dessa mais qualquer coisa.

E nós, que não fomos habilitados pela aritmética se não pela casuística, aprendemos a estar de atalaia ao luar para nele encontrarmos ao arnês diligente que nos salvou da conspiração urdida nos baldios. Não era o ano zero; mas se fosse, faríamos o favor de entronizar o zero como número pleno, só para contrariar a aleivosia dos apóstatas que contra nós apostaram. 

Estava confirmado por fontes seguras: era o ano zero e mais. Agarrámo-nos àquele mais, a retórica que viria a fazer a diferença.

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