26.2.25

Atravessar as pontes é o contrário de definhar mergulhado sobre o umbigo – e o bem que isso faz!

The Mysterines, “Dangerous” (Live at Later with Jools Holland), in https://www.youtube.com/watch?v=F2q3C1Vj3pY

Os covardes é que têm medo que um elefante pegue numa arma e comece a disparar balas sem critério. Os covardes deviam saber que é o elefante que tem medo de nós, apesar do tamanho e da força que tem. Os covardes só o são porque se apequenam no seu mundo exíguo. As fronteiras são uma proteção contra a alteridade; ser diferente é uma estranheza que não deixam entranhar, reagindo com agressividade à aproximação do outro. Definham na estreiteza das fronteiras mentais, que são mais pequenas do que as fronteiras com marcos.

Soubessem ser maiores de pensamento, tivessem a curiosidade de cursar as pontes que se levantam para terminar com a separação das terras diferentes, e talvez perdessem a força para serem covardes. Ao contrário do que pensam os lugares-comuns, é preciso ter força para ser covarde. É uma força que deles faz porta-estandartes de uma geografia dependente de estremas. Uma força que se transfigura em fraqueza: o somatório de raias que distinguem terras deseduca as pessoas, que recusam partilhar um devir com os outros que estão em territórios contíguos. E até com os outros, mais distantes e com uma identidade ainda menos afim.

As barreiras mentais são desconstruídas de cada vez que atravessam pontes que aproximam o que dantes, quando o tempo estava mergulhado nas suas trevas, era a força motriz da diferença abjurada. As pontes levam as pessoas a outros lugares. Quanto maior for a distância percorrida e mais as pontes atravessadas, menos afins são as pessoas. E maior é o crescimento interior dos que se atiram de cabeça à aventura de dar a saber a existência de outros mundos e outros outros. 

Quem tem medo dos outros e reage com agressividade, como se os outros fossem um agravo à coutada onde se enquista a identidade fechada dos covardes, é refém de um labirinto em circuito fechado. O pensamento não chega à maioridade. Desfalece quando se aproxima da porta que o separa do outro. Estes são os conservadores que se refugiam em fortalezas interiores. Fogem, cheios de medo, da versão atual, e cosmopolita, do mundo. Para mergulharem sobre o umbigo, a apequenar. 

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