24.2.25

O teu nome é uma pergunta

Fontaines DC, “It’s Amazing to be Young”, in https://www.youtube.com/watch?v=MjI1L0dBAVI

A cordilheira não assusta quando a vemos ao longe. Parece um oásis. A distância que emagrece ao correr da ilusão de ótica arrefece a intimidação. Ou talvez não: nós é que tutelamos a métrica dos lugares, nós é que arranjamos o astrolábio que nos devolve os quilómetros que distam dos lugares desejados. Para depois sabermos nomear todas as maratonas feitas.

Não se aformoseiam os nomes na doutrina efémera que os distingue por camadas. Os nomes levitam, desprendem-se das pessoas que passam nas ruas sem serem um nome concreto. Não lhes é dedicada indiferença, pois não nos despojamos do cais da humanidade e as pessoas, por mais que se encubram no anonimato, continuam a ser pessoas. 

Devia ser dever perguntar o nome de todas as pessoas que viessem de frente. No enredo ensaiado, tomo como garantido que as pessoas não se refugiavam no anonimato; e não invocariam leis que conferem a reserva de identidade a quem quisesse esconder o nome. A demanda seria emulsionada com uma pergunta. Para depois poder dizer que os nomes das pessoas interpeladas são a pergunta maior que se pode imaginar.

Na escola devia ser obrigatório aprender a fazer perguntas. Melhor dizendo: aprender a saber fazer perguntas. Para afivelar os estilhaços colhidos com as mãos enquanto o crepúsculo se demora ao ser o verso do entardecer. Para a intuição ajudar a terraplanar as colinas aguardadas que desencorajam as empreitadas apalavradas. Para inventariar os nomes que ficam por contar e emoldurar os outros que se alistam no labirinto da alma. 

O teu nome é uma pergunta. Não espero uma resposta. Não quero uma resposta. Deixo às perguntas o sortilégio do teu nome, se a ele vier beber uma vida sentida por dentro, sem capatazes nem procuradores à espera de arrematar o magma em ebulição. Se a ele vier beber a minha boca.

Sem comentários: