The Mysterines, “Stray”, in https://www.youtube.com/watch?v=4NquU--FL9Y
Não se aconselhavam com os (assim proclamados) procuradores das almas. Por mais que a ajuda fosse precisa, recusavam a intromissão. Preferiam a razia, a devastação total que encontravam nos corredores da alma. Ao menos, essa era a sua devastação. O resultado dos seus erros, até os que fossem intencionais, era da sua lavra. Noa fugiam dessa responsabilidade, não a fingiam, nem a endossavam para o lado. Se devia haver curadores das almas, que atuassem na interiorização da responsabilidade de que as pessoas não se podem exilar.
Os escombros que sobejavam, depois de uma incursão metódica pelo erro, traziam à tona dores às vezes excruciantes. Mas eram as dores intrínsecas aos atos que ecoavam na linha de produção dos erros. Era uma razia: por mais que fossem as juras de não voltarem a frequentar o erro, passava uma temporada e o erro voltava a ser visitado. Como já tinham aprendido que o arrependimento não esconjurava os erros futuros, afastavam-no do palco a que subiam as decisões.
Uma vez, alguém (um talvez candidato a treinar almas dos outros, pela pose exposta) insinuou que o erro não existe. O que existe são as consequências dos atos, que não quadram com as intenções alinhavadas. Disse: não dominamos o que nos rodeia, as contingências podem fracassar os propósitos atribuídos a uma decisão. A decisão teria boas intenções, mas as circunstâncias, que não podemos domar, conspiraram contra a finalidade pretendida. Concluiu: isso não pode ser tido na conta dos erros.
O pusilânime aspirante a guru das almas foi enjeitado – ficou a falar sozinho. Propunha uma farsa. Os atos têm consequências. Se forem determinados por uma conjugação de acasos, essa é uma contingência que não podemos encobrir. Se falhamos, assumimos a responsabilidade. Não procuramos expedientes para vestir uma máscara ao logro. Por mais que seja uma razia, a responsabilidade não se dissipa na vontade de nos exilarmos por dentro de nós. Falhamos, gloriosamente. E voltamos a falhar, se preciso for.
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