2.8.12

As mãos dizem tudo


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As rugas, a mortalha das expirações temporais. Profundos os regos que dividem a pele, como se rios tivessem adestrado a erosão transformada em rugas. Ou as mãos alisadas, um santuário de doçura, como se nunca tivessem adejado inquietações sonâmbulas. Há mãos que são arte fingida, os poros destilando uma pele glacial que não apetece beijar. Há as mãos refúgio, as mãos suadas e quentes. As mãos que apetece resguardar. Diamantes em bruto, um mapa legível de onde se alcança o firmamento que promete deleites que divindade alguma consegue amparar.
As mãos são como mapas. Ensaiam-se em coreografias subtis, uma leveza de gestos em que apetece demorar. São mapas por vezes árduos na sua decifração. Espalham os pregos por diante, nas exigíveis ameias que escondem tudo do exterior, armadilhando os contrafortes onde os peregrinos pagam promessas. E nem assim coalha a sua magistral singeleza, os gestos que parecem dedadas de pintor deixadas numa tela em branco. Fechem-se os olhos, desvele-se o que a imaginação imprime: seriam quadros singulares, as cores harmoniosas, traços vigorosos, umas poucas palavras em jeito de mote – que as mãos tanto são o refrigério da criação, como dela podem esvoaçar os gestos que se perdem em danças perenes.
Essas mãos são o palácio dos afagos, um desafio às divindades a que se procura peugada. As divindades são supostas, as mãos convergem na alforria dos sentidos; quem pode assegurar que as divindades são entes maiores, se o que nos é dado a apreciar é o desejo coreografado pelas mãos? É que as mãos, em sendo mapas, são oráculos que deixam homenagem ao tempo emoldurado. São oráculos ao contrário. Afivelam as lições do tempo pretérito. São deixadas, as lições, no campo onde fervem as sementes do futuro.
As mãos dizem tudo. As mãos falam por quem as tem.

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