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Das certezas que soam a vazio. À
passagem do tempo, os saberes traduziam mais dúvidas. As ideias eram desafiadas
na sua harmonia. Sentia a necessidade de pensar diferente, coisas diferentes,
alindar os campos (até então inférteis) das doutrinas repudiadas. Era um
reposicionamento que oscilava ao entardecer, sempre ao entardecer – parecia a
hora combinada para as hesitações que consumiam pelo interior. Quando
interrogava os saberes que julgava serem, admitia estar menos convencido com as
doutrinas por onde transitara. O pior, é que não reconhecia melhor potencial às
que eram alternativas. Talvez estivesse apenas a macerar numa profunda
confusão. A precisar de uma interior peregrinação que aclarasse as ideias das
nuvens plúmbeas que entretanto se acastelaram. A certa altura, pareciam
irrelevantes as ideias todas. Eram fragmentos de uma explicação das coisas,
fragmentos que traziam à tona pedaços da realidade. Às vezes, apeteciam mais as
polémicas com correligionários ou afins. Que as mantidas com sacerdotes das
ideias diferentes eram uma canseira e não estava seguro que os adversários não
estivessem, afinal, ungidos de razão. Apreensivo, desfiava as perguntas que
fermentavam consumições interiores. O pior dilema: desconhecia se era datado o
pensamento, o que convocava a humildade intelectual de as renegar, para depois alistar
em doutrinas que foram rivais; ou se era apenas um capricho, o sonoro bocejo por
causa da rotina do pensamento quase imutável. Não demorou o diagnóstico: temia
que a espingarda arremetesse contra a segunda hipótese, e a primeira mereceu
sentenciação. Ficava melhor no retrato. Em surdina, sem esboçar esgar de
desprazer pessoal, inquietava a possibilidade de um cansaço ditado por
capricho. Superou a metódica hesitação. Refugiado num novo retrato interior, os
alicerces das ideias de outrora destinados ao lugar de ruínas, era um daqueles
transviados que dão a cara. Um pensamento teria de existir. Se fosse a negação
do pensamento alinhavado nos muito anos anteriores, que houvesse humildade para
admitir que os olhos viam por um diadema enviesado. As ideias, novas e já não
estranhas, começavam a soar no alpendre da lógica.
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